Acredito que pouca coisa na tv brasileira tenha a credibilidade e a qualidade da TV Cultura, da Fundação Padre Anchieta. Eles conseguem ser TV pública sem ser chata, produzir jornalismo imparcial, ser estatal sem cabides, sem ser chapa branca.

Além do elogiado modelo da programação infantil, com o Cocoricó, Rá Ti Bum e o Castelo, a TV Cultura apresenta, desde 1986, o melhor e mais importante programa de entrevistas de nosso país, o Roda Viva.

Agora a TV Cultura, em parceria com a FAPESP, dá mais um passo ao encontro da IPTV e TV Digital, oferecendo ao público de todo o Brasil e do mundo o Memória Roda Viva, pela internet.

De acordo com a apresentação, “os usuários têm acesso às transcrições integrais das entrevistas realizadas pelo Roda Viva nos últimos 21 anos, além de um vídeo do programa e verbetes explicativos. Mais de duzentas das principais entrevistas estarão disponíveis para consulta e pesquisa. Semanalmente serão inseridos outros programas, até que todos estejam no site.”

Os vídeos ainda não estão integralmente no site, mas considero já um presente inestimável à memória brasileira, não aquela confinada em museus ou nos burocráticos centros culturais e videotecas sem estrutura, mas esta entregue a estudantes, pesquisadores e toda a gente que se importa com este país, pelo seu mais moderno meio digital. Penso que nos planos do Paulo Markun, presidente da Fundação Padre Anchieta, o Memória Roda Viva uma vez totalmente digitalizado, migrará em breve para a programação da TV Digital daquela emissora.

Consulte aqui o acervo e para assistir ao programa ao vivo (segundas-feiras, 22h40) acesse por aqui.

Tem Lorde na Web 2.0

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O leitor deste espaço já percebeu que pouco a pouco, os governos vem adotando os princípios, métodos e ferramentas da Web 2.0. E esta utilização não está, felizmente, totalmente correlacionada com a idade das organizações.

É o caso, por exemplo, da vetusta Câmara dos Lordes do Parlamento do Reino Unido, que acaba de criar um
canal no YouTube, oferecendo vídeos que falam sobre a história da instituição.

O objetivo central desta iniciativa, segundo afirmou a porta voz da Câmara, Helene Hayman, é atrair cidadãos de menos idade para os assuntos discutidos na Casa, mostrando que os temas ali tratados tem muito mais interesse para os jovens, do que estes poderiam supor inicialmente.

Para chegar até eles, entretanto, reconhece a porta-voz, é preciso caminhar no sentido da diversidade e combater visões estereotipadas sobre velhos e jovens. A utilização de vídeos, adotando uma linguagem descontraída, é um desses passos.

A respeitável Casa também tem um
blog para compartilhar opiniões entre seus membros, e destes com a cidadania.

Esperamos que os bons ventos que estão bafejando a tradicional Instituição ajudem a rejuvenescer cabeças de pessoas, idosas ou não, que ainda não entendem a importância do uso desses instrumentos para a modernização dos governos e fortalecimento da democracia.
Não cabe aqui, nem a mim, pronunciar sobre a recente decisão do TST – Tribunal de Superior do Trabalho, considerando que “não há ilicitude no ato da empresa que acessa caixa de correio eletrônico corporativo de empregado”, ou seja, não há privacidade ou sigilo se o computador e o acesso à rede não pertence ao empregado, mas é propriedade da empresa.

Contudo, me incomodaram as recomendações fornecidas à imprensa pelo relator do agravo, ministro Ives Gandra Martins Filho, em que sugere que as empresas e os órgãos públicos façam como o TST e restrinjam o acesso à internet pelos funcionários, proibindo qualquer contato com Orkut, blogs, Youtube, MSN ou sites de pornografia, por exemplos.

Note que, ao colocar uma aplicação num mesmo cesto da pornografia, dá-nos a impressão de que as comunidades do Orkut são povoadas por pedófilos e tarados, que os blogs são criados e mantidos por exibicionistas, que o Youtube é um festival de sexo explícito, ou ainda, que o MSN foi criado para a sedução. Isso não é exagero, é mentira.

Como diz o Pepe, fazer com que o empregado trabalhe não é tarefa de “proxy”, é tarefa do chefe. Confiar a identificação de maníacos e estranhos no ambiente de trabalho ao “sistema de segurança da rede” é uma grande besteira, isso é missão para departamentos como os de gestão de pessoas.

Atribuir à internet uma função desqualificada e imoral é negar todas as virtudes da rede, inibir ou restringir seu acesso significa obstruir o desenvolvimento do pensamento, da pesquisa e da mudança organizacional.

Acredito que aqueles que pensam como o ministro devam rever suas posições e acessar as boas práticas em vários países apresentadas neste e em tantos outros blogs e sites. Verão que existem empregados de escritórios e repartições públicas que trabalham mais, melhor e com qualidade de vida porque estão conectados irrestritamente.

POST POST: A Comissão de Educação e Cultura do Parlamento Europeu, a respeito do pluralismo dos meios de comunicação, elaborou e aprovou um interessante relatório, que está sendo chamado o Estatuto da Blogosfera, cuja versão em português pode ser acessada aqui.
As aplicações da web 2.0 no setor governamental tem sido o mote recorrente nos recentes congressos e noticiários de inovação em governo, apontando para a necessidade de avançar em sua aplicação nas instituições públicas.
Falta-me ainda uma reflexão mais profunda acerca da implicação democrática, das metas de transparência e da participação cidadã, possíveis e fáceis com a web 2.0, sobrepondo-se aos objetivos mediatos de serviços públicos que caracterizaram o e-gov nesses doze anos de prática do governo na internet. Em outras palavras, o e-gov priorizou a migração de serviços públicos para a web, enquanto que o i-gov prioriza a relação governo-cidadão concentrando o foco neste último.

Outras características e necessidades emergiram nesse tempo e o grau de maturidade da web 2.0, acumulados esses três anos de prática, nos permite desmentir os incrédutos opositores da mudança na grande rede, que afirmavam não passar de modismo.

A busca por padrões ou modelos de serviços públicos eletrônicos, encontra hoje respostas com baixos custos e rápidas implementações, dispensando a complexidade (de estrutura e valores) exigida pelas empresas públicas de informática, em qualquer esfera de governo. E isso, por si só, já representa mudança.

O Governo 2.0, em termos conceituais, toma por base a incorporação de novas tecnologias como soluções da prática institucional pública, capaz de acompanhar o processo de mudança de uma sociedade aberta e atual. Essas soluções baseiam-se em:

Gestão centrada no cidadão: colocando o cidadão - suas necessidades, anseios e expectativas - no centro da configuração dos serviços públicos. Veja a iniciativa
e-Citizen Charter do Governo da Holanda e a concepção do Gov 360 graus do Governo de São Paulo.

Governo único e em rede: a forma com que o governo se apresenta ao cidadão, mesmo organizado departamental e funcionalmente, deve representar metas e atitudes comuns. Por outro lado, a gestão do conhecimento e a transmissão de idéias e soluções entre os órgãos de governo, permitem atingir padrões de prestação de serviços e melhorias de desempenho em toda a administração.

Coprodução de serviços: modelo em que os usuários de serviços públicos participam de forma ativa no seu planejamento, adaptação e manutenção. Veja o magnífico exemplo da
Escola da Ponte.

Funcionário web: a mudança tecnológica e ambiental impõe também a necessidade de mudança no modelo mental de trabalho, em níveis organizacionais e pessoais, sendo este último prioritário para a implantação de novas habilidades e atitudes baseadas na colaboração.

Facilidade de uso: os quesitos de usabilidade devem sofrer uma adaptação que considere a interatividade e participação do cidadão como fator de sucesso, ou seja, a comunicação ativa não se baseia mais em e-mail ou formulários, mas em inclusão de conteúdos em páginas de governo. Tais quesitos também estendem-se da web para as demais modalidades de atendimento (presencial, telefônico, etc), adequando as circunstâncias de atendimento à necessidade do usuário do serviço.

Novas métricas de qualificação dos serviços eletrônicos: foi comum até agora medirmos a eficiência dos serviços em termos de investimento e retorno financeiro, calculando economias para o governo e para o cidadão. Penso que isso seja mesmo importante, porém medir a qualidade dos serviços deve passar pela satisfação do usuário e a melhor utilização do meio adotado de prestação.

Distinguem-se nessa abordagem, a respeito das aplicações de governo 2.0, no mínimo duas categorias:

Aplicações para a melhoria de serviços públicos: informações atualizadas sobre criminalidade e espaço geográfico cidadão (Chicago e Citix), processos de revisão de patentes (Peer to Patent), informação sobre procedimentos urbanísticos (Planning Alert), geração de informação pública (Gapminder), sistemas de diálogo com os usuários para a melhoria dos serviços públicos (Patient Opinión), etc. Um outro exemplo, já clássico, da utilização Gov 2.0 está no wiki das agências de inteligência dos EUA, que racionalizou seu sistema de informação através do Intellipedia. Estas e outras referências aqui citadas, podem ser encontradas no Joint Research Centre, nos artigos do David Osimo já citado em post anterior e no Global e-Government Survey 2008 publicado pela ONU.


Aplicações para a melhoria de políticas públicas: por vezes tenho a impressão de que, em se tratando de políticas públicas de tecnologia de informação, o governo é o cachorro correndo atrás do rabo. Sem conquistar espaço na agenda política do Estado, vive reativamente a demandas que, quando se pronunciam, pedem por soluções ultrapassadas e daí se afasta mais e mais em participar da pauta de governo. Uma interessante iniciativa é o projeto catalão TicCities, sobre como utilizar as TIC para melhorar as políticas públicas de competitividade local, disponível no relatório Best Practices eGovern local.


Quanto ao uso de ferramentas web 2.0 (blogs, wiki, podcasting, ferramentas de compartilhamento, espaços virtuais como o Second Life, redes sociais, micro-blogging, etc.), apenas iniciamos o debate, tanto aqui quanto no exterior, apresentando propostas e experiências que temos praticado, como no
iGovSP, cujo lançamento oficial está previsto para o dia 19 de junho.

Na sociedade atual, as formas de comunicação, relação e geração de conteúdos estão se dando a cada vez com maior naturalidade e intensidade, por isso é desejável que a administração pública também assuma essas novas formas de gerar e compartilhar informação e conhecimento.

Os planos de modernização administrativa caducaram, quer pela banalização da palavra, quer pelo seu anacronismo em tempos do tempo real. Pensar o hoje é para agir hoje, para agir a longo prazo temos que pensar e planejar a longo prazo, mas as ações iniciam agora. Veja o plano neo-zelândes e suas mensagens estratégicas incluindo valores da web 2.0.



Do ponto de vista organizacional, vemos iniciativas interessantes na Espanha onde, além do
Ministério da Inovação, implantou em Bizkaia (Bilbao) o Departamento de Inovação e Promoção Econômica, constituído por técnicos que buscam colocar em prática uma nova relação com seus cidadãos, provedores e colaboradores, e lá criaram um blog e um wiki para compartilhar sua experiência de implantação da cultura 2.0 no ambiente de governo. Em São Paulo, algo semelhante acontece com o Grupo de Apoio Técnico à Inovação, vinculado à Secretaria de Gestão Pública.



De fato, estamos num momento bastante oportuno para novas propostas, algumas arrojadas, outras mais tradicionais, mas em comum a demanda por soluções políticas capazes de trazer o governo para os novos tempos, que requerem ao menos que se garanta ao cidadão o acesso à tecnologia midiática ( banda larga, padrões de usabilidade e acessibilidade, mobilidade, etc.) e a integração de habilidades sociais na formulação de ferramentas de governo.

Por fim, vale lembrar que não se trata de gestão de governo eletrônico, mas do uso racional de ferramentas que considerem a comunicação colaborativa a verdadeira inovação na gestão pública.

O CONIP de 2008

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Como previsto no post anterior, a semana CONIP, que termina hoje, foi bem agitada: conferências internacionais, grandes personalidades de governo apresentando cases, personalidades do W3c, do Comitê Gestor, videomensagem do Tim Bernes-Lee, empresários e patrocinadores, enfim um evento que ratifica a excelência daquele instituto.

Mas o que eu destaco aqui é o uso intensivo das ferramentas web 2.0, cobrindo o evento através dos seguintes endereços:

Blog de governo eletrônico do CONIP

Twitter da assessoria de imprensa

Sala de imprensa

Fotos do evento revista Bites

Twitter da Revista Bites


Em alguns cliques, dê uma geral no congresso.
Falei lá um pouco, num tutorial "
Como montar seu blog de governo".