Em abril deste ano, comentamos aqui que a Europa estava trazendo um novo modelo de governo eletrônico, apresentando um excelente plano de convergência de mídias, com uso intensivo e integrado de ferramentas web 2.0 e mobilidade, sob o lema "Putting citizens first". Lembro que na época também lamentávamos a situação do e-gov norte-americano, que sofria a estagnação.


Agora, com a alta expectativa gerada pela eleição do presidente Obama, estamos certos de que a demanda reprimida da inovação em governo já está se mexendo, no sentido de usar a internet e outras tecnologias para um governo aberto, interativo e conectado com o cidadão.


O Federal Web Manager Council, que é um grupo de interagências governamentais americanas, reunindo cerca de trinta especialistas em web do governo e outros 1500 web managers do setor público, acaba de publicar o paper "Putting Citizens First: Transforming Online Government". A coincidência do título americano com o slogan europeu fica por aí; de fato, o documento americano é uma proposta daqueles que ficaram desde o ano 2000 engessados em criatividade e inovação, devido ao inapto governo Bush, e que agora preparam uma retomada de princípios de serviços eletrônicos ao cidadão.


Um curto e rápido documento que está sendo entregue ao presidente eleito e que vale a leitura neste fim de ano. Resta-nos aguardar quando teremos também uma versão brasileira do citizen first.


Falando em fim de ano, coloco aqui o link para o nosso e-card de festas. Bom Natal aos nossos queridos leitores e grandes realizações em 2009.


Quem percorreu as páginas deste blog já observou que, embora nosso propósito seja o de divulgar boas práticas de inovação em governo no Brasil e no exterior, a presença de iniciativas dos Estados Unidos em nossos posts é quase nula, o que parcialmente explicamos aqui. De fato, é de se estranhar que a liderança e o pioneirismo norte-americano nesse setor tenham sido abandonados nesses anos de inovação, de governo 2.0, mas é aceitável se olharmos para o governo Bush como o puxador da tomada do e-gov

Sabemos, por tudo que já escrevemos aqui sobre o presidente eleito Barack Obama, que esta situação já está mudando e fica cada vez mais forte a certeza de que essa mudança vai além do otimismo, porque para Obama é clara a utilização de tecnologias de informação e comunicação para a governança. Não é modismo, nem tecnocentrismo, o que caracteriza as ações do presidente eleito ao declarar a criação em seu governo de um CTO - Chief of Technology Office, sua escolha nesse caminho começou bem antes, como já dissemos, no encontro que o então senador teve com Marc Andreessen, em 2007.

Nesse mesmo ano, em novembro, Obama foi ao escritório da Google para proferir uma palestra sobre suas idéias de TICs e governo. Os trechos dessa palestra foram disponibilizados somente há um mês no YouTube e pode ser assistido abaixo.


Na iniciativa de "criar uma democracia transparente e conectada", destacamos os seguintes pontos do discurso:
  • Disponibilizar informações governamentais online em formatos acessíveis universalmente;
  • Criar fóruns de participação pública, para perguntas gerais sobre legislações pendentes, com respostas em tempo real e espaço para sugestões e críticas às leis antes de serem assinadas;
  • Garantir que cada residente americano e cada escola, hospital e biblioteca tenha acesso à internet em banda larga;
  • Incrementar os padrões de velocidade de banda larga;
  • Estimular a ciência e a educação tecnológica, preparando uma nova geração de cientistas; e
  • Implantar o registro médico eletrônico, melhorando os cuidados com a saúde, diminuindo erros e baixando os custos do sistema. 
Para tornar real o Plano de Tecnologia e Inovação, o governo Obama já nomeu os três nomes que irão assumir o Grupo de Tecnologia, Inovação e Políticas Governamentais: Sonal Shah (foto), que chefiava uma das iniciativas filantrópicas da Google; Blair Levin e Julius Genachowski, ambos originados do FCC - Federal Communication Comission, um tipo de Anatel americana.

A mudança começou e para o lado certo.
Dia 20 de novembro, em Vitória, participei como palestrante, do 4° Gestão das Cidades, evento promovido pela Secretaria de Estado de Economia e Planejamento do Espírito Santo e realizado pela Amunes - Associação dos Municípios do Estado do Espírito Santo.

No encontro deste ano, assistido por uma audiência recorde, foram discutidos diversos temas que podem, de alguma forma, ajudar a construir uma agenda de trabalho para os prefeitos e vereadores recém eleitos.

Tive a honra de dividir minha mesa com Charles McNeely, premiado Gestor da Cidade de Reno, localizada em Nevada, nos Estados Unidos. Ele fez um brilhante relato sobre sua experiência em Reno, iniciada em 1996.

McNeely informou que nos Estados Unidos cerca de 50% das pequenas cidades são administradas por um gestor profissional com formação acadêmica específica para o exercício deste cargo. Neste figurino, o prefeito fica liberado para o cumprimento de uma agenda mais política, deixando para o gestor a administração do dia a dia da prefeitura.

No caso de Reno, o Gestor assina um contrato com o Prefeito e com o Conselho da Cidade, algo como nossa câmara dos vereadores, composto por sete membros. Neste instrumento são fixadas as políticas, programas e projetos prioritários da cidade, cujo cumprimento será o objeto do contrato do gestor.

Nesta postagem, gostaria de destacar alguns pontos que me chamaram muita atenção na fala de McNeely, por serem exemplos práticos de condutas que temos recomendado nos diversos blogs da rede paulista de inovação.

1. Em um mundo globalizado, no qual cidades de diversos tamanhos, perfis e nacionalidades competem avidamente por atividades de ponta, centradas no conhecimento, o planejamento estratégico passa a ser uma peça indispensável para quem queira aparecer como alternativa viável com vistas a atração desses recursos. Perguntas do tipo: que cidade queremos ser daqui a 5, 10 e 15 anos, por exemplo, devem nortear as ações de dia a dia, sob pena de afastar a cidade da rota da riqueza e da qualidade de vida.

2. Nada pior para a cidade do que a descontinuidade. Programas, projetos e ações prioritárias não podem ser relegados a um segundo plano, à cada troca de governo. As prioridades devem expressar o desejo mais amplo da comunidade e devem ser buscadas, independente do comando político em um dado momento.

3. Para que as prioridades expressas nos documentos públicos reflitam, de fato, os legítimos anseios dos moradores da cidade, é preciso buscar o mais alto grau de participação cidadã, ouvindo todos os segmentos que compõem a sociedade local, costurando com muito cuidado eventuais divergências. Só assim surgirá o espírito de comunidade que blindará as prioridades escolhidas contra possíveis retrocessos.

4. A crescente complexidade das políticas públicas demanda recursos humanos com altíssima qualificação (a propósito, McNeely comanda uma equipe de 1700 funcionários, envolvendo um orçamento anual de 478 milhões de dólares). Por isso, torna-se indispensável que esses profissionais estejam aprendendo o tempo todo, prática considerada essencial para o sucesso da missão do gestor.

Confira a íntegra da apresentação. Vale à pena.

Além da sua palestra, Charles McNeely falou com exclusividade para o Persona, sobre recrutamento de talentos e sobre o uso da Internet na cidade de Reno.
Talvez por coincidência ou propósito que desconheço, boas pessoas inovadoras que conheci na administração pública nesses anos tem, além desta característica da inovação em comum, um outro ponto que os une: admiram Dom Quixote.  

Nada de fanatismos ou auto-comparações com o Cavaleiro da Triste Figura, mas reparo silenciosos sinais de que a obra de Cervantes os inspira e de certa forma os ajuda a persistir, pois sabemos que inovar no setor público é aventura que exige, no mínimo, perseverança e consolo. A criatividade, a loucura, a melancolia, a esperança, a alegria e a realidade presentes em Dom Quixote e Sancho Pança já inspirou outros tantos inovadores, como Pablo Picasso, autor da imagem reproduzida neste post, que enxergaram além da sátira, a nobreza do fidalgo de La Mancha.

Mas faço esta introdução apenas para anunciar duas iniciativas vindas de Espanha e que utilizam a tecnologia de mapas na web: a primeira é Rutas de Don Quijote , onde o governo de Castilla-La Mancha oferece ao usuário um guia online das andanças do cavaleiro e seu escudeiro, em versões desktop, pdf e mobile. Um tipo de lítero-turismo que poderíamos fazer por aqui com as obras de Jorge Amado ou Guimarães Rosa.

Outra aplicação utilizando mapas, é o Innova Barcelona, um completo Mapa da Inovação desse grande centro espanhol que aponta, em escala georeferenciada e com informações preciosas,  as fontes de financiamento e de apoio, centros de pesquisa e casos de sucesso em inovação presentes em Barcelona. 

É um show visual, interativo e de alta qualidade em conteúdo, mostrando uma metrópole preparada, disposta à criatividade e à inovação, com governantes que já entenderam o recado do século XXI. 
Dedicamos anteriormente neste blog vários posts à campanha eleitoral de Barack Obama, elogiada pelo uso da internet e das ferramentas sociais, também comentada em nosso podcast, que adiciona os elementos estatísticos e estratégicos que foram recentemente revelados sobre essa vitoriosa campanha.

Entre as revelações, a NewsWeek está publicando online uma enorme reportagem em sete partes, contando os bastidores da campanha, que inclui alguns toques da estratégia web e os conflitos entre crackers.

Também sobre os bastidores webelections, o Chicago Tribune exibe fotos e comentários do comitê de campanha, apresentando Chris Hughes, jovem de 24 anos e um dos fundadores do FaceBook, que ganhou o posto de "guru da campanha online". Não esqueçamos que em 2007, o então senador Obama teve um encontro com Marc Andreessen, aquele que criou o Netscape e o portal de rede social Ning, justamente para aprender sobre ferramentas sociais. Esse encontro é relatado por Andreessen em seu blog.

Entretando, passada a ressaca das eleições, é hora de olharmos a transição; e neste ponto a equipe do presidente eleito também não decepciona.

Eu já havia acessado o White House Transition Project, que existe desde 1997 e relata todas as transições presidenciais, oferecendo um acervo de recursos e documentos, entre eles o "Recommendations for an Effective 2008 Transition", de Clay Johnson, executivo de governo e quem cuidou da transição Clinton-Bush.

Mais recentemente conheci o The White House 2, que está colhendo adesões à propostas para os primeiros 100 dias de governo Obama, onde o cidadão pode votar as prioridades. Interessante site que mostra em segundo lugar, entre as prioridades que devem ser cuidadas pelo presidente, fazer com que os USA sejam líder em "empregos verdes" e inovação (Make the U.S. a leader in green jobs and innovation). Isso combina muito com o que o Pepe escreveu no post anterior.

Agora, no dia seguinte ao resultado das eleições, a equipe de Obama colocou no ar o seu site de transição The Obama-Biden Transition Project que, além de apresentar a evolução da nova administração, a agenda de prioridades do novo governo, as nomeações e ocupações de cargo, convida a interação do povo americano com duas frases-chaves: "Conte-nos sua história" e "Compartilhe suas Idéias". Ambas propõem ao usuário participar ativamente deste momento histórico.

Sabemos que nada disso surge de repente, do improviso. A campanha de Obama, iniciada há 22 meses tem, no mínimo desde julho último, preparada a estratégia da transição e posse, não por presunção, mas porque um candidato que não se prepara para assumir o cargo, no mínimo seis meses antes, não está preparado nem para ser candidato, como recomenda Clay Johnson. Se o uso de ferramentas Web 2.0 foi importante na campanha, também deve ser utilizado na transição, como recomenda e instrumentaliza o excelente artigo de Mark Dapreau.

E também, é claro, deve ser utilizada na gestão, logo após a posse. Vamos acompanhar.
Se a sequência eleições-transição-gestão do novo governo americano seguir com coerência o uso colaborativo de idéias e conhecimento, talvez tenhamos um inovador modelo de gestão, concentrando e usando conceitos de economia de colaboração, cauda longa, emergência, ferramentas sociais, convergência tecnológica e tudo aquilo de bom que surgiu nos últimos oito anos, mas não tínhamos ninguém para liderar.
Como já mencionamos em outras ocasiões, o surgimento do conhecimento como fator estruturante da economia, neste início de século, tem obrigado países e organizações a repensar suas estratégias, ainda muito contaminadas por paradigmas de uma sociedade industrial que perde sua força a cada dia que passa.

Um novo livro, há pouco lançado nos Estados Unidos, “Who’S YOUR City?”, de Richard Florida, professor e pesquisador norte-americano, apresenta algumas cifras bem interessantes que fornecem um pouco mais de luz para os que se interessam em compreender os complexos fundamentos desta economia emergente, baseada no conhecimento.

Segundo o autor, o sucesso nos negócios na economia global dependerá crescentemente da compreensão do perfil, hábitos e preferências da chamada classe criativa, profissionais ligados aos setores de tecnologia da informação e comunicação, arquitetura, engenharia, educação, treinamento, artes, design, entretenimento, esportes, imprensa, gestão, finanças, saúde, marketing e outras atividades de alta sofisticação.

Dentre as muitas observações feitas por Richard Florida, na obra acima apontada, e em outros veículos de comunicação por ele coordenados ou freqüentados, destacamos três delas para comentar neste espaço:

1. A classe criativa, neste início de século XXI, responde, nos Estados Unidos, por 31% dos postos de trabalho e 50% da massa salarial. As mesmas cifras para a indústria são de 23% e 20% respectivamente. No início do século XX, a industria era, de longe, o setor líder da economia, abrigando mais de 40% da força de trabalho contra apenas 10% dos postos ocupados pela classe criativa. (veja o mapa)


2. Mais do que os países, a economia mundial é hoje explicada por não mais do que 40 mega-regiões. Elas respondem por 17% da população, 2/3 do PIB e 85% das inovações globais. (confira o mapa de inovações)

3. Estas cifras, segundo o autor evidenciam que o mundo não é plano como sugere a obra de Thomas Friedman, e sim bicudo, pontiagudo. As pessoas, os talentos cada vez mais escolhem onde querem trabalhar, e esses locais, pelo conjunto de atributos requeridos, como qualidade de vida, facilidade de acesso, diversidade, opulência cultural, entre outros, são escassos e diferenciados em relação a outros territórios.

Estas observações novamente me trazem à mente a seguinte questão: Será que o Brasil e nossas regiões mais competitivas globalmente estão conscientes dos desafios que teremos que enfrentar para sermos uma nação justa e opulenta, ao final do século XXI? Se existe esta consciência, ela, definitivamente, não aflorou na agenda das recentes eleições municipais. Vamos ver em 2010.

Para concluir, convido-os a dar uma espiada no site do autor, ele dispõe de um conjunto bastante amplo de cifras, mapas e comentários sobre a revolução silenciosa provocada pela classe criativa. Quem tiver interesse, que ponha as mãos à obra, isto é, a cabeça para pensar.
Apesar de não ser simpático às nomenclaturas que dão às gerações, muito utilizadas pelos estatísticos e marketeiros - que criaram rótulos como os baby bommers, que foram sucedidos pela geração X e que agora cedem espaço para a geração Y  - é impossível negar que essas diferenças comportamentais, de consumo, crença e valores, sejam cada vez mais influenciadas pela tecnologia na sociedade. Então, o que acontece na nova geração ? Quais ferramentas usam para se expressar ? A vídeogeração não é mais espectadora, é produtora.

A organização não governamental britânica
DEMOS, que tem por princípio ser um "catalizador de idéias da democracia cotidiana", publica estudos e organiza eventos focados para os movimentos sociais e democráticos, que apresentam os desafios da participação cidadã dos jovens e seus métodos nos dias atuais. Assista o vídeo abaixo criado pela DEMOS.


A DEMOS, como parte desse estudo, também publicou o delicioso relatório de Celia Hannon, Peter Bradwell e Charlie Tims, todos da European Cultural Foundation, chamado Video Republic. Esse estudo, gratuito para download, coloca os fatos e argumentos desta geração conectada, usuária e produtora de vídeos através de webcams, celulares e câmeras de bolso de baixo custo e alto impacto, que não se incomodam com a imagem tremida ou com pouca luz, mas se preocupam em mostrar e denunciar a realidade ao seu redor.

As novas gerações e as novas tecnologias talvez tragam consigo a nova democracia, uma nova república... algo além de novos consumidores. Antes dizíamos que informação é poder; agora, como diz na abertura do vídeo, contar histórias é poder.

E o governo nisso ? Eu havia comentado em outro post sobre a posição da ministra da Educação e Política Social de Espanha sobre a obrigação da administração pública em compreender e usar esses canais, agora o Video Republic inglês afirma que "os governos procuram solucionar os resultados coletivos, influenciando a cultura em que vivemos; também eles vão ter de encontrar novas maneiras de comunicarem-se com pessoas através da Video Republica."

Parece que, ao menos no Reino Unido, essas novas maneiras de videocomunicação já estão adotadas, tanto pelo Primeiro Ministro quanto por Sua Majestade, a Rainha Elizabeth II.


A propósito, em 1958 na Inglaterra, essa mesma rainha transmitiu a primeira mensagem real de Natal pela TV, desejando naquela ocasião que "o novo meio torne a minha mensagem de Natal mais pessoal e direta. O fato de alguns de vocês me verem hoje é um exemplo da velocidade que está mudando o mundo".


Sim, está mudando e muito mais veloz quando os governos são lentos.


Duas áreas importantes e, em geral, com o maior contingente de funcionários na administração pública, são Educação e Saúde. Reportamos anteriormente o modelo espanhol em educação, com a Escola 2.0, e agora acredito que já podemos identificar sinais de um Hospital 2.0, desta vez no Reino Unido.

Percebi esses sinais quando conheci a portuguesa Ana Neves, radicada em Londres e editora do portal KMOL,  por ocasião do evento KM Brasil.  Em sua palestra sobre ferramentas sociais, um dos exemplos que ela destacou, foi colhido da experiência na Inglaterra e refere-se ao Patient Opinion.

Trata-se de um site-comunidade de serviços públicos, que incentiva a colaboração e inovação nos serviços de saúde britânico, a partir da participação e opinião dos pacientes e usuários desse sistema.

As primeiras mensagens na home do Patient Opinion já anunciam o propósito do serviço online: "Sua história pode mudar o Sistema Nacional de Saúde. Diga a todos o que aconteceu. Veja o que outras pessoas estão dizendo. Como essas opiniões estão mudando o sistema de saúde.". Daí é que questões como atendimento, enfermaria, consultas e tantas outras são contadas pelos cidadãos e aproveitadas pelos dirigentes públicos para a melhoria do sistema.

Uma ação sem intermediários, sem ombudsman ou ouvidorias, compartilhada por todos e resolvidas por quem de direito. Algo prático, transparente e democrático. Veja, por exemplo, que desde o uso do mecanismo de busca  até a leitura da opinião de outros usuários da rede hospitalar, o cidadão é incentivado a opinar, a comentar as propostas e a conhecer o ranking de avaliação dos serviços, que inclui o padrão de cuidados médicos, limpeza, estacionamento, tratamento com respeito e dignidade, como mostra a figura a seguir.



Pois é, está comprovado que compartilhar histórias pode melhorar a prestação de serviços públicos e o uso da estratégia web 2.0 facilita a implantação.

A SaferNet Brasil é uma organização não governamental responsável pela Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, que opera em parceria com o MPF-SP e que reúne cientistas da computação, professores, pesquisadores e bacharéis em Direito com a missão de defender e promover os Direitos Humanos na Sociedade da Informação no Brasil.
Nesta última quinta-feira, dia 9, a SaferNet divulgou uma pesquisa inédita sobre segurança na internet e que contou com a participação de quase 1.400 crianças, jovens e pais de todo o País. Dessa pesquisa e do site da ONG, destaco alguns resultados:
  • 53% dos jovens já tiveram contato com conteúdos agressivos e que consideravam impróprios para sua idade;

  • 38% dos jovens internautas relataram já ter sido vítima de ciberbullying;

  • 10% afirmaram já ter sofrido algum tipo de chantagem on-line;

  • 64 % dos jovens usam a Internet principalmente no próprio quarto, contrariando uma das dicas de prevenção que orienta a manter o computador em área comum da residência;

  • 80% dos jovens internautas preferem os sites de relacionamento, 72% comunicadores instantâneos;

  • 54% dos jovens dizem que possuem algum colega que já encontrou com um amigo virtual;

  • 27% dos jovens afirmam já ter encontrado (presencialmente) ao menos uma vez amigos que conheceram pela Internet;

  • 72% dos jovens publicam suas fotos;

  • 51% divulgam o sobrenome além do nome;

  • 61% compartilham a data de aniversário; e

  • 21% afirmam que fornecem livremente o nome da escola e/ou clube que freqüentam.
Dito assim, parecem apenas números estatísticos, mas apontam-nos a realidade e cabe-nos encontrar o equilíbrio entre a segurança e a liberdade nas mídias interativas. Se você quer conhecer e baixar os slides da pesquisa apresentada, acesse aqui.


O caderno Link (do Estadão e Jornal da Tarde) desta semana traz em reportagem de capa o tema Tecnologia também é Política, apresentando as propostas de e-gov dos candidatos a prefeito da cidade de São Paulo. É muito interessante ver os diferentes vieses que cada candidato dá ao assunto, que vão desde visões mínimas de desburocratização pela informatização até a efetividade de novos e integrados serviços públicos online.

Em comum, dois pontos: todos pretendem conectar a cidade em banda larga, em contrapartida, nenhum propõe uma política de tecnologia de informação e inovação em governo. Quer dizer, entenderam que deve ser usado, mas ainda não sabem como nem porque. 

Querem uma dica ? É só acessar o Tech President, um excelente blog que concentra-se em apresentar "Como os candidatos estão usando a web e como são usados por ela", de acordo com o slogan do site.  

Nos EUA, tecnologia e política estão estreitando laços, basta assistir ao vídeo a seguir, extraído da propaganda de TV do candidato Barack Obama, que aponta para a incompetência de seu adversário McCain em entender o mundo contemporâneo, baseado em sua falta de habilidade e convívio com computadores:



Em transcrição do Gizmodo, o comercial diz: “1982. John McCain vai a Washington. As coisas mudaram nos últimos 26 anos. Mas McCain não. Ele admite que ainda não sabe como usar um computador. Não consegue mandar um e-mail. Ainda não entende a economia. E apóia US$ 200 bilhões em cortes de impostos para corporações, mas quase nada para a classe média. Depois de um presidente desatualizado, nós simplesmente não podemos suportar mais do mesmo.”

Pelo vulto que tomaram nestas eleições os temas internet, serviços eletrônicos e estratégia em tecnologia de informação, finalmente o assunto passou ao primeiro grupo de propostas (e promessas) de gestão pública eficiente e de qualidade. Ter um projeto de conexão à rede, de criação de novos serviços públicos digitais e socialização de ferramentas de comunicação, está ficando tão importante (ou vinculado) aos de solução de infraestrutura urbana. 

Em curtas palavras, levar conexão à internet passa a ser tão fundamental quanto levar eletricidade.

Veja o que o Pepe comenta no post abaixo e também o que já falamos sobre o assunto aqui.

Vira e mexe surge a pergunta. Quantos blogs existem no mundo?

Acho impossível responder esta pergunta com um grau mínimo de confiabilidade. Enquanto estou fazendo esta postagem, milhares de blogs estão sendo criados, e outros tantos estão desaparecendo. Por isso mesmo, os números apresentados pelas diversas empresas especialistas em pesquisas na web são tão díspares.

Pessoalmente, creio que mais importante do que entrar nessa neura numérica, é prestar atenção na direção do vento. Senão, ficamos escravos da “estatística pela estatística” e deixamos de observar o mais importante, ou seja, o verdadeiro impacto das ferramentas sociais, das quais o blog é a face mais conhecida, na vida das pessoas e organizações.

Foi com este espírito que comento alguns aspectos da pesquisa “O Estado da Blogosfera”, recentemente disponibilizada na Internet pela Technorati, empresa especializada em indexação, classificação e distribuição de conteúdos gerados em blogs e outras mídias sociais.

Apontarei, nesta postagem, 10 pontos (olha eu caindo na armadilha numérica) que me chamaram muita atenção no documento. Por coerência, não falarei sobre as cifras, em si, as quais podem ser consultadas no estudo mencionado.

1. Os blogs, entendidos como veículos de democratização do processo de autoria e de distribuição de conteúdo, mudaram radicalmente a face da Internet e moldarão o futuro da mídia.

2. Como o talento não cresce na mesma proporção das facilidades tecnológicas, haverá, na blogosfera, muita coisa ruim e sem interesse, algum material de qualidade e uns poucos exemplares de excepcional valor. Essas duas últimas manifestações, por si só, mostram a importância dos blogs para a divulgação de idéias e experiências que, antes, por falta de canal apropriado, tendiam a ficar no plano dos sonhos não realizados.

3. Os blogs estão mudando de cara. Tornaram-se mais bonitos, têm mais funções e estão ficando com jeitão de “site”.

4. Isto tem muito a ver com a maior sofisticação e integração da ferramentas da web 2.0. Pressinto uma grande expansão de soluções que incorporem, em um único ambiente, gratuito e bem resolvido visualmente, o melhor dos blogs, wikis, redes sociais, mashups, etc.

5. O Internet está tomando o lugar da TV como maior consumidora das horas de lazer da população mais jovem. Os blogs e as redes sociais explicam muito desse fenômeno.

6. Estimo que a convergência digital vai se acelerar e os computadores vão, cada vez mais rapidamente, ficar com a cara das TVs e as TVs, com a cara dos computadores.

7. Blogs viraram mania universal. O que era um fenômeno tipicamente norte-americano, com o passar dos anos, foi avançando, também, nos demais continentes, moldando um novo estilo de vida global.

8. Blogs tornaram-se recurso corporativo. O que, de início, era rejeitado ou visto com desconfiança, passou, mais recentemente, a integrar o conjunto de ferramentas colaborativas e de comunicação mercadológica de um número crescente de organizações.

9. No universo corporativo, os governos, em particular, ainda utilizam pouco, e muito timidamente, blogs e outras ferramentas sociais na moldagem de uma nova relação entre o serviço público e a cidadania. Felizmente, este quadro está começando a mudar, graças, principalmente, a utilização inovadora desses instrumentos na campanha presidencial de Barack Obama e por um crescente número de governos europeus.

10. Para reforçar este sentimento, vou reproduzir uma declaração do consultor Michael Powell, da Providence Equity Partners, um dos ouvidos pela Technorati na pesquisa ora comentada. Disse ele, “a blogosfera colocou um pouco mais de tempero na nossa democracia, tornado-a mais apetitosa para um maior número de pessoas”.
No Brasil, a preocupação com a inserção das cidades na era do conhecimento ainda é muito tímida. Um dos indicadores dessa baixa prioridade é fornecido pela presença, praticamente nula, do tema na agenda dos candidatos à prefeito e vereador, aqui em São Paulo e, desconfio, no País como um todo.

Por ser muito recente, as questões vinculadas ao conhecimento ficam fora do debate, ainda dominado pela discussão dos problemas da educação, saúde, transportes e segurança pública, setores com carências históricas e, por isso mesmo, com maior apelo eleitoral.

O que nos preocupa, no entanto, é o fato de que pensar essas questões com a cabeça submetida aos padrões da longa e agonizante sociedade industrial impede uma análise mais profunda e criativa dos complexos problemas que dominam, hoje, a vida das cidades. Na verdade, a capacidade de acrescentarmos conhecimento ao processo de formulação e implementação das políticas públicas vinculadas aos estratégicos setores de atividade citados acima é que irá ditar a efetividade das mesmas.

Um exemplo. O debate atual ainda privilegia o abrir escolas, o que é bom, mas fala pouco, ou nada, sobre a adaptação dos currículos para os complexos problemas do mundo contemporâneo. Fala pouco, ou nada, da cidade como espaço permanente de aprendizagem.

Outro exemplo. Ampliar o transporte de massa é certamente imprescindível, mas o que temos feito para tornar as viagens mais “inteligentes”, por meio do alongamento da curva de utilização da infra-estrutura de transportes, ou pela diminuição do número de viagens que acabam por se revelar inúteis devido a falta de informação do usuário sobre as questões que conduziram ao deslocamento?

Se nos debruçarmos sobre estas e outras questões similares, vamos descobrir que não existe incompatibilidade entre o “aqui e agora” e o conhecimento. Vamos perceber, mais ainda, que desconsiderar o peso do conhecimento nas modernas políticas públicas atenua, em muito, o grau de efetividade das soluções adotadas.

Observando como esta questão está sendo tratada na agenda eleitoral das democracias mais avançadas do planeta, estou convencido de que as eleições de 2010, já incorporará uma porção mais generosa de conhecimento em seu cardápio. As de 2012 mais ainda.

O chato é que essas porções já poderiam estar sendo ser servidas desde já. Mas, fazer o que? Vou controlar meu apetite e torcer para que esta fina
iguaria caia, rápido, no gosto popular. Quem experimentar, eu garanto, vai gostar.

A Roda está Viva

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Em junho passado anunciávamos aqui algumas iniciativas da TV Cultura, especialmente no Roda Viva, com a digitalização das memoráveis entrevistas realizadas nesse programa nos últimos vinte e dois anos, comemorando com sua disponiblização pela web.

Nesta segunda-feira, 22, o Roda Viva levou ao ar a primeira Transmissão Experimental Participativa, que julgo ser pioneira no país a usar ferramentas web 2.0 e tv ao vivo integradas e com interação. Em uma mesma página o usuário podia assistir ao programa, assistir aos bastidores durante o intervalo, ver fotos e, principalmente, interagir com o moderador e com outros usuários no programa ao vivo.
Vale a pena ler os comentários que surgiram durante as transmissões, o programa cresceu em tempo virtual (algo como realidade aumentada) e conteúdo com essa participação, o telespectador agora é interator, a sensação que dá é de que o sofá ficou maior.

Para fazer isso, o pessoal de novas tecnologias da TV Cultura usou da web três ferramentas gratuitas: o Coveritlive, liveblogging usado para a cobertura em tempo real; o Mogulus para a transmissão de imagens ao vivo (no caso usado para a camera "fora do ar"); e o Twitter, para os comentários dos teleinteratores. Como arremate, o programa também utilizou o Flickr para as fotos.

Para quem está achando que isso é muito "tosco", cheio de "gambiarras" e integrações de pé quebrado, peço que repense. O que a TV Cultura está fazendo - e o que nenhuma outra emissora comercial fez - é experimentar a convergência hipermidiática, é prospectar a linguagem interativa que a TV Digital irá nos oferecer, sem medos de perder audiência, mas com o compromisso de elevar o conhecimento de seu público. Só a TV pública consegue fazer isso ?

Espero que na próxima segunda-feira repitam a dose.

Ah! sim, o título deste post eu retirei de um dos comentários feito por alguém, naquele sofazão digital, durante o programa.
A consultoria americana Awareness, sediada em Massachusetts, especializada em ferramentas web 2.0 - blogs, wikis, rss, tags, comunidades, podcasts, videocasts, mapping, mashups... e por aí em frente - publicou um estudo sobre tendências e boas práticas, sob o título "Trends and Best Practices in Adopting Web 2.0 in 2008".

É de fato um white paper, com a objetividade que o nosso tempo exige, sem contudo cometer leviandades de observação. Trata-se da segunda edição de uma pesquisa que tenta apurar o uso estratégico e operacional dessas ferramentas w2, com avaliação dos bons e maus resultados, algo que também chega a sugerir melhores decisões na escolha. Como por exemplo, a utilização de wikis que, segundo o relatório, tem maior sucesso quando utilizados em ambiente interno, na produção de conhecimento corporativo.

Faço destaque a três aspectos interessantes do estudo:
- na divisão entre mídias externas (external-facing) e internas (internal-facing), 70% das empresas pretendem empregar ou manter blogs para comunicação externa e 55% querem implantar redes sociais no ambiente interno;
- o crescimento do percentual de empresas que, neste ano, passaram a permitir que seus empregados usem as mídias sociais durante o expediente, de 37% em 2007 para 69% em 2008; e
- o uso de vídeo (Youtube, Vimeo e assemelhados) tem sido encarado, por 48% dos entrevistados, como a aplicação número um em boas práticas empresariais.

Esses números vão crescer, é claro, talvez a ponto de contagiar a administração pública. Continuo, até que me provem o contrário, pensando em governo 2.0 como parte da solução.

A Política 2.0

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No próximo sábado, dia 13/09,  o Parlamento do País Basco será invadido pela blogosfera daquela região do extremo norte da Espanha, para realizar o primeiro encontro de blogueiros, políticos e políticos-blogueiros, a fim de explorar as possibilidades de incorporação das ferramentas web 2.0 no âmbito da política. 

Apesar de não possuir nenhuma entidade organizadora do evento, todos estarão lá a convite da presidenta da casa, Izaskun Bilbao, foto, a primeira mulher a presidir o Parlamento Basco desde sua criação.

O encontro, chamado Politika 2.0, naturalmente já possui blog, wikitwitter e facebook, por onde vai dar para acompanhar a discussão e a criação de conteúdos, que já começou. Leia, por exemplo, o modesto decálogo (na verdade tem 13 mandamentos) do Poli-blogger, que é como estão chamando o político-blogueiro. 

Foi um achado chegar ao décimo-segundo mandamento, que diz "Busca sempre a Sinergia Macramental estável, duradoura e em contínua expansão.". Por ignorância e dever de ofício, fui atrás da definição de Sinergia Macramental e descobri que o termo, nascido na eFindex do ano passado, parece acertar ao descrever a potencialidade dos blogs na dinâmica de comunicação nos tempos atuais. Um neologismo que cabe. 

Como anteriormente previ o fim da política 1.0, quem quiser saber mais sobre Politika2.0 e se preparar, comece pelas definições e siga em frente. Quem preferir, e vale a pena, pode também conhecer o Plano Basco da Sociedade de Informação - Agenda Digital 2010.
Em julho passado, anunciamos neste blog a criação espanhola da Escola 2.0, numa inovadora ação de governo desenvolvida pelo Ministério de Educação, Política Social e Desportes. Passado esses três meses, o mesmo ministério anuncia mais uma criação: um canal no YouTube.

Apontamos aqui e ali as iniciativas de governos que, ao aderirem a canais de vídeo na internet, melhoram sobremaneira sua comunicação com o cidadão, potencializando o relacionamento com o público e beneficiando-se do meio para explicar o próprio governo em nova linguagem, diferente do formalismo retórico dos "diários oficiais" mas, sob o ponto de vista da informação, apresentam a palavra (e imagem) oficial.

O novo canal do ministério de Espanha, o MEPSYD, iniciou com uma pequena programação e pretende usar o mesmo canal para receber dúvidas e críticas do cidadão, visando o aprimoramento do canal e da gestão. A titular da pasta, a ministra Mercedes Cabrera, no vídeo de apresentação do canal, diz que "... a administração pública tem a obrigação de unir-se a esta nova forma de entendimento com a sociedade...".

Por curiosidade, fui procurar na caixa de busca do YouTube algum vídeo com a tag governo brasileiro e achei isto... pena. Tenho razões para acreditar que, ao criar canais no YouTube (ou qualquer outro do tipo), os governos poderiam também começar a praticar a linguagem da TV Digital e começar a produzir serviços públicos em vídeos interativos, que tal ?

Para quem ainda não conhece a técnica embrionária da interação no YT, interaja aqui para alguns exemplos e aqui para entender como é feito.
No final de 2006 tive a oportunidade de assistir, em Portugal, ao nascimento da AMA - Agência para a Modernização Administrativa que na época, confesso, me parecia mais um daqueles escritórios criados para apaziguar ânimos e conflitos de competência, visto que entre suas atribuições, a tal agência iria concentrar dois órgãos públicos de ponta no território lusitano: a UMIC e as Lojas do Cidadão. Eu estava errado, ainda bem.

A AMA, além de imprimir novo ritmo aos projetos de sucesso, como a implementação das Lojas do Cidadão 2.0, organizou e vem implementando o Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado – PRACE - e o SIMPLEX. Bons projetos, tanto para empresas quanto para cidadãos estão em desenvolvimento nesse curto tempo de operação da AMA, presidida por Anabela Pedroso.

Agora encontro mais um exemplo dessa competência: a Rede Comum de Conhecimento (RCC), criada para divulgar e compartilhar online casos de boas práticas na administração pública, do ponto de vista da modernização, da inovação e da colaboração. Algo que modestamente tentamos fazer na iGovSP, só que a rede lusa tem mais "musculatura", como diz o Pepe.

De acordo com o próprio portal RCC, a "Rede Comum de Conhecimento é uma plataforma colaborativa de apoio à partilha de iniciativas de modernização, inovação e simplificação administrativas da Administração Pública; disponibiliza informação relevante em áreas como interoperabilidade, governo inclusivo, distribuição de serviços públicos... e dará suporte às redes formais de colaboração e de conhecimento".

Um aspecto que chama a atenção é que a RCC tem por princípio a adesão livre por parte dos organismos públicos, centrais e locais, das entidades privadas e dos cidadãos que nela queiram participar. Quer dizer, cidadão também inova o governo.

Sem pessimismos, vou acompanhar o desenvolvimento da mais recente rede do conhecimento em língua portuguesa e espero postar suas novidades. De início, recomendo a consulta à Mediateca disponível no portal, um tesouro digital aos inovadores em governo.

video no humyo

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A última eleição 1.0

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Nesta semana começou o horário obrigatório de propaganda eleitoral, que acabará só no dia 2 de outubro. Apresentam-se na mídia cerca de 380 mil candidatos a prefeito em todo Brasil (para 5.563 vagas) e um não-sei-quantos postulantes às 52.137 vagas de vereador pelo país. Conta de mais, totaliza 57.700 brasileiros que assumirão o poder público em seus municípios no próximo janeiro, via o voto direto.

Dizem que a campanha só começa mesmo quando tem início o uso da mídia eletrônica, em nosso caso o rádio e a tv (?!). Essa lógica da comunicação em mão única - candidato fala e eu escuto - está com dias contados, na nova e-democracia deve surgir o e-candidato que conduzirá a uma nova comunicação e gestão, tanto da campanha, quanto do mandato.

Daí lembrei de um artigo do Fernando Puente, publicado no El País sob o título "Los diez mandamientos para ser un buen e-alcalde", que coloca num decálogo muito simples as recomendações para os e-prefeitos. Aplica-se também no caso brasileiro, a começar pelo primeiro mandamento que é "Faça a vida mais fácil para as pessoas", aqui fundamenta-se a diretriz primeira para qualquer serviço público, principalmente o em meio eletrônico.
Penso que esta será a última eleição 1.0, em termos de planejamento, comunicação e formas de compromisso do candidato, incluindo quando eleito. A campanha eleitoral deste ano é, em formato e conteúdo, ultrapassada, unilateral, não-interativa e igualzinha as tantas outras que assistimos nos últimos doze anos.

Quando comentamos a brilhante campanha do Obama nas prévias democratas, criando vantagem competitiva em relação a Hillary, creditamos essa vantagem ao bom uso das ferramentas web 2.0, e estamos certo nisso. O que precisou ficar claro é que o uso dessas ferramentas significa alta interatividade e não simplesmente a diversidade midiática.

As eleições presidenciais de 2010 serão eleições 2.0, acredito. Haverá programas de candidatos sendo montados em co-produção com a população através de comunidades web e blogs, como o dos Metronauts no Canadá; o candidato responderá - ele mesmo - questões deixadas no Youtube pelo eleitorado, à moda britânica do Ask The PM; os nossos celulares receberão SMS e MMS não de propaganda política, mas de respostas às perguntas que enviamos aos partidos por esse meio, que também deve ser usado pelo TSE e seus regionais. Ah! sim, também me parece que a TV Digital estará mais amadurecida e talvez interativa.

E nesta eleição de 2008 o que pode ser feito ?
Bem, o que eu vou fazer neste final de semana é estudar um exemplo de participação política 2.0 que conheci recentemente: o site italiano OpenPolis.
Nesse site independente, os usuários "adotam" um candidato eleito em qualquer nível de governo e, além de prepararem a biografia política, monitoram e acompanham os passos desse representante, sua postura em decisões, quais projetos propôs e nos quais votou sim ou não, escândalos em que se envolveu, enfim, sem necessidade de "relação oficial dos fichas sujas". É o eleitor quem cria e controla o conteúdo, assim é a democracia doispontozero.

POST POST: Para ter uma idéia de outro bom projeto w2, com inovadora linguagem visual e de conteúdo sobre o tema eleições, acesse o projeto Rock the Vote, pelo qual um instituto de pesquisa dos EUA, em parceria com a Microsoft, estão usando a rede do videogame Xbox Live para medir a intenção de voto do jovem americano nas eleições deste ano. A Rock the Vote já usa o site e uma versão para mobile, Youtube, Flickr e Facebook, além de oferecer o mesmo conteúdo em espanhol. A notícia saiu no site da BBC e no Plantão Info.


O leitor habitual deste espaço já observou em postagens anteriores, que os governos, em maior ou menor escala, com maior ou menor grau de timidez, começam a adequar o perfil de suas administrações para os novos tempos do conhecimento e da inovação acelerada.

A criação do Ministério da Ciência e da Inovação, na Espanha, e da AMA – Agência para Modernização Administrativa, em Portugal, são dois exemplos concretos desta nova calibragem, ambos já abordados no iGovBR.

Vamos registrar, agora, mais um caso, o da Coréia do Sul. No início do ano, foi criado, lá, o Ministério da Economia do Conhecimento.

Por que será que uma nação, cujo crescimento econômico recente tem sido considerado exemplo de pujança, cria uma estrutura inovadora deste tipo? Por que será que um pequeno país asiático que saiu do sub-desenvolvimento da década 60 para a atual posição de 16° maior PIB - Produto Interno Bruto do mundo, está preocupado com este tema?

As informações disponíveis no site do Ministério da Economia do Conhecimento e as palavras colhidas no discurso de posse do titular da nova pasta , Lee Youn Hoe, dão algumas pistas para que possamos responder a estas duas questões. A criação novo órgão indica a percepção do governo coreano para o esgotamento de um modelo industrial baseado na energia fácil, na despreocupação com o meio ambiente e centrado, quase que exclusivamente no mercado externo.

Para superar este estrangulamento o novo ministério aponta como principais desafios:

- Diminuir regulações que dificultem a abertura de novos negócios e a atração de capitais externos;
- Privilegiar os segmentos de semicondutores, biotecnologia, tecnologia da informação e de novos materiais;
- Estimular atividades econômicas intensivas em conhecimento;
- Racionalizar o uso de recursos energéticos não renováveis;
- Promover internacionalmente o design industrial coreano;
- Fortalecer os negócios internos não vinculados às exportações.

A criação do novo ministério e esta carta de intenções mostram que o governo coreano está atento às mudanças globais e sabe que, hoje, mais do que nunca, uma nação, por mais bem sucedida que seja, não pode ser dirigida apenas olhando para o retrovisor.

Por outro lado, está claro, para nós, que simples mudanças nos organogramas públicos não bastam para colocar uma nação na trilha do desenvolvimento sustentado. Isto seria simplificar muito a questão. Uma penada bastaria, neste caso, para enriquecer todos os países.

No caso coreano, por exemplo, medidas estratégicas de fundo, como a erradicação do analfabetismo, que atingia um 1/3 dos moradores nos anos 60, e a disponibilidade de uma mão de obra de alta qualidade - cerca de 80% da população atual possui grau universitário - criaram condições para que sonhos mais altos possam, agora, sair do papel.

O Brasil, que ainda não fez essa lição de casa, deve apressá-la se quiser ser, de fato, um país rico e socialmente justo. Paralelamente, suas estruturas governamentais devem estar mais antenadas com esses novos tempos e sinalizar para os investidores nacionais e estrangeiros que país queremos construir.

Neste ponto, a recente criação, no Brasil, do Ministério da Pesca e Aqüicultura oferece um triste contraponto ao exemplo coreano.
Os últimos cinco anos tem revelado um Portugal moderno e inovador, com governantes antenados na aplicação de tecnologias para a melhoria da gestão. Comentamos aqui anteriormente algumas práticas de nossos amigos lusos, como a segunda geração da Lojas do Cidadão, o SIMPLEX e o próprio Portal Cidadão, que coloca em ótima posição o governo português em termos de inovação.

A empresa de telecomunicações Ericsson realiza anualmente estudos de benchmarking na China, Estados Unidos, Reino Unido, Índia, Brasil, Japão e Suécia, visando apurar a realidade do mercado de seu segmento e, neste ano de 2008, incluiu Portugal em seu foco, apresentando informações surpreendentes sobre o mercado português na perspectiva do consumidor, em comparação com o mercado global.

Algumas delas: 2/3 dos portugueses tem computador em casa, 22% dos consumidores têm acesso aos quatro serviços/tecnologias (internet, telefone móvel, telefone fixo, televisão), 33% têm telefone móvel, internet e telefone fixo em casa, 51% dos lares tem ligação à internet e, acreditem, Portugal é líder em utilização de banda larga, ultrapassando proporcionalmente todos os países monitorados pela Ericsson, inclusive os EUA.

Mas isso não acontece sem querer ou por conta do próprio mercado. Antecede a todo esse estado de desenvolvimento e inovação, uma política pública sobre uso de TICs, que deu origem ao Plano Tecnológico Portugal a Inovar. Em Portugal, redes de nova geração são prioridade de governo, existe um plano e existem os indicadores e metas de sua realização, agrupados em três eixos: conhecimento, tecnologia e inovação.

Ao visitar o site do plano já se percebe o foco nos resultados: todas as escolas públicas estão ligadas à internet em banda larga desde 2006, todo o país tem cobertura em alta velocidade, 500 mil alunos do ciclo básico vão receber gratuitamente notebooks com acesso à rede, e tantas outras medidas para o cidadão, para a empresa, para a administração pública e para o desenvolvimento científico.
Aproveitando o tema Portugal e também porque hoje é sexta-feira, recomendo pegar na locadora o adorável filme DOT.COM.

O Blog de Fidel

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Nesta semana em que muito se falou sobre a censura que a China impõe nos acessos à internet, fui surpreendido com a existência do site Cuba Debate, que tem como lema "contra el terrorismo midiático" e que hospeda o Reflexiones de Fidel, um blog com 141 posts publicados desde 28 de março de 2007 até ontem e assinados pelo estreante blogueiro cubano Fidel Castro Ruz.

O
Blog do Fidel, como está sendo chamado, traz ainda RSS, vídeos no YouTube e um fórum que se considera o "Medio de información alternativa que promueve el debate y alerta sobre campañas de difamación contra Cuba". Lá sim é possível postar algum tópico, já que nos posts de Castro não tem "comments".

Fidel Castro sempre soube aproveitar os meios de comunicação: discursos intermináveis no rádio e tv, livros, coletivas, entrevistas... onde aparece Fidel, o assédio da imprensa e de admiradores e o respeito de outros líderes, mostraram sempre o estadista carismático, articulado e daquelas pessoas a quem damos ouvidos e olhos atentos. Agora lemos seu diário digital, quase percebemos um Fidel 2.0.

Mais do que surpreso, fiquei satisfeito em ver o velho comandante tão perto das novas mídias, mas ainda estou pensando: onde estão os nossos blogueiros democratas?
Um dos eventos mais importantes da Europa sobre inovação, criatividade e imaginação, para os setores público e privado, é o iFest08 - festival de inovação, versão 2008 - que aconteceu na semana passada em Barcelona, Espanha.

Entre os apresentadores - que vão desde
Andrew Ritchie, o inventor da bicicleta Brompton, até Hiroshi Tasaka, que fala sobre o paradoxo da sociedade do conhecimento e ferramentas web 2.0 - destaquei e incorporei neste post a vídeo-palestra de Nick Leon, diretor da Design London e que durante trinta anos foi projetista, engenheiro e executivo da IBM.

Nick Leon interessa-se por cidades, sobre a geração de inovação e cidades, em como ocorrem essas mudanças, como são criadas as economias urbanas e como se relacionam os nativos com os imigrantes. Em
entrevista ao Infonomia, Leon inicia dizendo que "as principais cidades de economias desenvolvidas, muitas delas com um passado industrial, estão se transformando para converterem-se em provedoras de serviços intensivos em conhecimento.".

Em época de formulação de programas dos candidatos a prefeitos, a apresentação a seguir aborda esses temas e o que as cidades devem fazer para atrair e manter talentos, no que destaca Leon " A questão, para se tornar uma cidade inovadora, não é colocar dinheiro em infra-estruturas, é sim uma questão de estímulo à inovação em todos os níveis.".


Em complemento ao assunto inovação, o site espanhol Infonomia também publica a Revista If, a revista da inovação, da qual recomendo a leitura do artigo "El ‘middleground’ en innovación", de Alfons Cornella, um decálogo interessante.

Por fim, aproveito este post de número 100 para agradecer a seus principais colaboradores: José Antonio Carlos (Pepe) quem regularmente escreve aqui, a Roberto Agune e Sergio Bolliger, quem nos incentivam desde o primeiro post e ao leitor Everson Lopes de Aguiar, atento pesquisador em mobilidade. Vamos comemorar!