A revista americana Fast Company, especializada em liderança, inovação design e tecnologia, acaba de publicar o ranking mundial das 50 companhias mais inovadoras, o The World's Most Innovative Companies, edição 2009. É natural esperarmos nesse tipo de lista nomes como Apple, Google, Intel e outras gigantes da high technology, já que é uma área que tem a inovação como meta, mas a surpresa está em quem ficou em primeiro lugar: A equipe Obama.

As categorias destacadas na premiação da equipe referem-se à inovação como novidade, como estratégia de marketing e como utilização de infográficos. Neste último destaque, decorrente dos esforços em design, a revista aponta para um bem resolvido infográfico, bastante simples e até modesto quando comparado ao todo visual da campanha, sintetizando a trajetória da campanha desde a indicação até a posse. 

A equipe de Obama, além de merecedora de vários prêmios em inovação, continua trabalhando. Vejam o recente site criado para mostrar ao cidadão americano como estão sendo gastos os US$ 787 bilhões do plano de recuperação da economia. O site Recovery, possui um gráfico-síntese dos setores que receberam fundos do governo, sob o título " Para onde está indo seu dinheiro", é clara a objetividade e compromisso da equipe. A apresentação é do próprio presidente, com o vídeo a seguir:



O site também oferece uma área de "Conte-nos sua história", característica do jeitão Obama, e ainda, passará a oferecer os dados de todos os gastos de forma aberta, possibilitando o mashup e o uso por aplicações de terceiros, além de novos gráficos para uma melhor visualização das informações.  

Quem quiser comparar, veja o site do PAC criado pelo governo federal.

Lembro também que a Câmara Federal está cheia de cuidados e dificuldades para publicar  na internet os gastos de verbas indenizatórias pelos deputados. Quando sair, penso que teremos que desenvolver uma Pedra de Roseta digital para entender onde estão sendo "aplicadas" essas verbas.

A convite da Secretaria de Gestão Pública do Estado de São Paulo,tive a oportunidade e o privilégio de conduzir a primeira Oficina de Criatividade no Setor Público, como parte das Oficinas de Estímulo à Inovação em Governo, promovidas pelo GATI e FUNDAP. O foco dessa oficina, com duração de três dias inteiros, é a utilização de ferramentas colaborativas e web 2.0 no trabalho dos órgãos governamentais, habilitando os alunos para empregar essa riqueza de recursos de rede na melhoria de seu ambiente e no atendimento ao cidadão.

Fico satisfeito de que em breve teremos novos blogueiros de governo, que vão juntar-se a tantos bons exemplos que com frequência citamos aqui. O interessante é que as evidências do uso dessas ferramentas sociais que trazemos em nossos posts, tiveram até então a característica de serem, em geral, aplicadas pelo nível estratégico, daí fui buscar exemplos em grau operacional e, sem muito esforço, encontrei e espero que possam inspirar a todos.

Podemos iniciar pelo pessoal de linha de frente (atendimento direto ao cidadão) do Condado de Oakland, em Michigan-EUA, que criou um portal que combina blogs e fóruns, como meio de encorajar a participação e o diálogo entre os cidadãos, onde se discute desde o preço local da gasolina até o das taxas e impostos governamentais.

Por falar em taxas governamentais, o Franchise Tax Board, do Estado da Califórnia-EUA, criou um canal no YouTube para explicar, em linguagem simples (algumas engraçadas) e também em espanhol, o porquê e para onde vão os impostos arrecadados pelo governo. É, sem dúvida, bem melhor do que ler planilhas e pdf's.

Na Alemanha, perto de mil servidores públicos e especialistas do setor privado fazem parte de uma comunidade Xing, para discutir a nova geração de governo eletrônico. Algo muito parecido com o que tem o Governo de São Paulo com sua comunidade nósGov, que foi chamada por um de seus membros de "Orkut do Governo".

Agora a ferramenta de micro-blogging Twitter está entrando em cena no setor público. Cerca de 70 mil britânicos, por exemplo, acompanham o Primeiro Ministro Gordon Brown em suas atividades diárias através desse recurso, que também encontra sua utilização pelo executivo e legislativo dos Estados Unidos, confira a lista aqui.

Os exemplos são inúmeros e serão sempre notícia neste espaço. Se você pretende conhecer ferramentas e complementos de web 2.0, preparei uma lista de links para os alunos da oficina e deixei disponível aqui.

Quando se fala em serviços eletrônicos, tenho em conta que o governo de Cingapura foi quem fez o primeiro portal organizado por eventos de vida, dedicado ao cidadão e serviços públicos, lá em 2004, com o inovador e bem-sucedido e-Citizen, que serviu de base para que montássemos aqui em São Paulo o Cidadão.SP e outros governos, como a França com o Service Public, também o copiassem como um modelo de government to citizen (G2C).

Inovando continuamente, Cingapura lançou em 2005 o myecitizen, um portal personalizado para que cada cidadão pudesse ter em sua página exclusiva e segura, todos os registros e transações que faz com o governo. O myecitizen era, e ainda é, o case mais próximo que um governo já chegou do CRM - Citizen Relationship Management. Com todos os avanços cingapurianos já comentados aqui, ficou impossível acompanhá-los: são rápidos, competentes e sabem o que os serviços online podem fazer.

Uso o exemplo do myecitizen toda vez que quero falar sobre inovação na relação governo-cidadão na web. Mas era um exemplo solitário, um caso isolado, quase uma dádiva daquela cidade-estado asiática. Notícia boa: a França também fez e chama-se Mon Sérvice Public.

Lançado em dezembro de 2008, o portal francês estava em desenvolvimento e testes desde 2006. Foram dois longos anos para que o governo entregasse aos seus cidadãos um mega-serviço online.

No Mon Sérvice Public, o cidadão pode criar uma conta onde registra seus dados pessoais uma única vez e compartilha esses dados com os vários órgãos da administração. Assim, o cidadão tem em seu site, seguro sob login, os serviços públicos relacionados diretamente com seu interesse, como documentos, impostos, seguridade social e outros, mas de forma personalizada, já que o sistema reconhece-o como cidadão único, independente de qual órgão do governo se relaciona.

Este conceito de cidadão único reduz trâmites e a complexidade administrativa, eliminando por exemplo que o cidadão seja só motorista ou proprietário de carro para o DETRAN, segurado para o INSS, contribuinte para a Receita e assim por diante. Um cidadão único para um governo unificado.

Como para usar o site é necessário ser cidadão francês, conheça esse novo serviço francês com o tour, que pode ser acessado aqui

Fico um pouco desconfortado quando ouço ou leio sobre o "otimismo da Obamamania" colocado em tom de deboche e exagero, parece que aqueles que acreditam ou externam sua esperança na gestão de Obama são tolos, ingênuos o suficiente para não verem a realidade que o exercício do poder imprime sobre qualquer mandatário, bem ou mal intencionado. Isto não é verdade.

No caso dos "bem intencionados", o otimismo se distingue da realidade ou do pessimismo por oferecer a oportunidade de inovar, de mudar, de melhorar o estado das coisas e as coisas do Estado. É assim que surgem as boas idéias e as propostas que de fato interessam, mostrando-nos caminhos que são, no mínimo, alternativas para o desenvolvimento e para a inovação. É melhor que o otimismo, com certos limites é claro, contagie as pessoas a ponto de abrir portas e janelas para novos ares.

Um bom exemplo é o Personal Democracy Forum, dedicado às mudanças que a tecnologia pode provocar na política e na gestão pública, que recentemente disponibilizou uma antologia de 40 ensaios sobre governo 2.0, indo desde as eleições e as novas formas de organização civil, até as formas de participação do cidadão nas decisões governamentais, tendo em vista as atuais e futuras tecnologias.

O livro Rebooting America reúne visões múltiplas, porém convergentes, de um governo 2.0 que pode liderar e foi publicado na perspectiva de servir a um governo de mudança e inovação, como parece-nos, com o otimismo que convém, o governo Obama. Seus autores, experientes em tecnologia e políticas públicas, apresentam um caminho para os próximos dez anos que em nenhum momento confunde-se com a futurologia cibernética, mas pauta-se no redor e no recente para propor mudanças em governo.

Com boa dose de humor, espero que alguma editora o publique também em português. Curiosa coincidência, há algumas semanas eu escrevia aqui sobre a necessidade de "um reboot capaz de mudar o funcionamento de toda a gestão, pelo update democrático"; estamos sintonizados.