Inteligência Cidadã

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Um dos mais significativos exemplos de inteligência coletiva que eu conheço é dado pelo TripAdvisor, um site de apoio ao viajante, que, dentre diversos serviços, apresenta uma classificação de hotéis, segundo a avaliação dos próprios usuários. São mais de quinze milhões de resenhas abrangendo estabelecimentos espalhados mundo afora.

Desde que descobri este endereço, há cerca de quatro anos, escolho os locais em que vou me hospedar, seja a lazer ou a serviço, a partir do ranking do site. Esta consulta tem possibilitado descobrir hotéis muito bons, a preços bastante competitivos.

Mas o que isto tem a ver com governo, poderia estar perguntando nosso arguto leitor.

A ligação entre uma coisa e outra é a seguinte: a cada ano que passa, tenho notado um aumento na desintermediação na avaliação de produtos e serviços. Em outras palavras, os usuários estão tomando decisões de consumo baseados cada vez mais na opinião de outros usuários iguais e ele, e menos propensos a aceitar dicas vindas de anúncios publicitários, críticos especializados e outros gurus variados. O número de bons sites feitos por “gente como a gente” tem influenciado as decisões dos consumidores não só de hotéis, como no meu exemplo, mas de livros, filmes, músicas, eletrodomésticos, etc. Este movimento ainda não é generalizado, mas quem se dispuser a analisar esses sinais, vindos de todos os lados, perceberá que eles são, hoje, mais fortes do que os de ontem e, com certeza, mais fracos do que os de amanhã.

No setor público a opinião sem viés do cidadão, um tipo superior de usuário, já começa a ser considerada, neste ou naquele serviço, como, aliás, tem testemunhado o freqüentador deste espaço. Mas isto ainda se dá de forma muito marginal.

Com o aumento do acesso a tecnologia e com o barateamento dos custos de comunicação, ouso afirmar que em breve teremos comunidades cidadãs julgando de forma consistente e direta a maioria dos serviços públicos.

A hora da preparação dos governos para este novo cenário é agora, enquanto os sinais ainda não são muito maciços e ruidosos. Um serviço deteriorado não melhora de uma hora para a outra. Muitos processos terão que ser reinventados e indicadores reformulados. A lógica do serviço público em um ambiente sem interlocutores é complexa e não vai admitir meia-sola. Não vai adiantar colocar o famoso 0800, a população já terá seus próprios números.

Este humilde espaço irá continuar mostrando esses sinais e as soluções já encontradas.

Parlamento 2.0

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Primeiro foi o Parlamento do País Basco que promoveu a política à versão 2.0, agora o Parlamento de Catalunha adere as redes sociais e ferramentas web 2.0, com uma estratégia comunicacional interrelacionada, interativa e focada no cidadão, sob o Portal Parlamento 2.0.

A iniciativa catalã, além da presença no Twitter, Youtube e Facebook, mantém um podcast, um agregador de blogs e twitter dos deputados, para promover a transparência legislativa.

Mas não para por aí, o parlamento catalão também criou o serviço Meu Parlamento, para que os cidadãos possam, sob registro,  acompanhar os assuntos legislativos de seu interesse, de forma personalisada. Outra novidade - e esta deve servir de exemplo para os serviços públicos de qualquer governo - está na disponibilização de widgets, que são pequenas aplicações que podem ser integradas a outros sites, públicos ou privados, a fim de oferecer mais informação ao povo catalão.

Também não faltou espaço online para fazer perguntas ao presidente, com o serviço O Presidente Responde, as questões e respostas são publicadas para toda a comunidade catalã. Em sua segunda legislatura como presidente, Ernest Benach i Pascual, de 49 anos, resume em seu blog que "o Parlamento 2.0 equivale a um parlamento transparente, aberto e acessível a cidadania a qual representa e para qual trabalha. Equivale a interatividade entre política e sociedade, a ouvir e discutir livremente, a interagir e abrir novos canais de relacionamento direto com o cidadão.".

O que falta para nossas Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas e o Congresso funcionarem dessa forma ?

Uma manhã em Lisboa

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"Qual a atitude e reação do Setor Público face à dinâmica da Web 2.0? 
Que desafios e obstáculos estão envolvidos? 
Quais as grandes tendências ao nível internacional? 
Quais as expectativas do Cidadão na Era 2.0? 
Que tecnologias e soluções podem ajudar a Administração Pública a responder aos desafios e exigências da Web 2.0?" (Ana Pinto Martinho)

O assunto inovação em governo, foco deste blog, tem seu principal representante em Portugal a organização Espiral de Conhecimento que, entre outras coisas, produz e mantém o portal iGov, especializado neste segmento abrangendo toda a Europa.

Recebi deles o amável convite para participar da sessão iGov: Administração 2.0, a tomar toda a manhã do próximo 25 de março, no Auditório da Biblioteca Nacional, em Lisboa. O evento faz parte do Ano Europeu da Criatividade e Inovação, comentado aqui no início do mês.

Devido a distância e ao trabalho, fui obrigado a recusar, mas também obrigo-me a divulgar aos interessados em inovação, o intenso e bem elaborado programa, com dois destaques que mais ainda me fazem lamentar não ir.

O primeiro destaque é David Osimo, presidente da Tech4i2 e pesquisador do uso das ferramentas sociais na gestão pública, a quem já citamos por seu trabalho aqui. Um dos pioneiros a escrever sobre a web 2.0 em governo e, corajosamente, defender seu uso.

Outra presença ao evento é Anabela Pedroso, presidente da AMA, que também já foi nosso assunto anteriormente, sobre Centrais de Atendimento.

Estimo que seja uma manhã de bons trabalhos e ótima experiência. Espero também que os frutos dessa reunião possam ser compartilhados, como sempre ocorre na sociedade colaborativa.

Uma das vantagens na inovação que utiliza tecnologia digital é a facilidade com que pode ser reproduzida, ou seja, uma iniciativa-modelo em determinada área pode ser copiada para outra, ainda com os ganhos de um sistema já testado. Diferentemente no mundo físico, quando o governo cria um hospital ou escola modelo, sabemos que dificilmente o modelo se reproduzirá, visto que envolve custos de construção, equipamentos e manutenção, não suportados por outros projetos.

O Reino Unido tem um modelo de avaliação de serviços públicos, o Patient Opinion, que é referência mundial em participação cidadã na internet, na medida em que, através de um site, o paciente atendido pela rede pública de saúde avalia o serviço prestado e a qualidade do atendimento, as instalações, o tratamento, enfim os diversos aspectos de sua passagem por esse serviço, contando sua história de modo a servir à administração e aos demais cidadãos. 

Esse modelo agora será reproduzido e ampliado aos demais serviços públicos britânicos, através do projeto Working Together, lançado nesta semana pelo Primeiro Ministro Gordon Brown, que sintetiza o princípio do projeto ao declarar que "Estamos no início de um novo mundo na prestação de contas, no qual os pais, os doentes e as comunidades locais formam os serviços que recebem, assegurando a todos que os nossos serviços públicos não estão apenas na mão do governo, mas representam a voz do povo local.".

A partir de maio estarão disponíveis ferramentas online para que o cidadão possa avaliar e comparar o funcionamento dos serviços municipais e, a partir de 2010, os pais poderão registrar no site o seu  feedback  sobre o sistema de educação e os serviços prestados nesta área aos seus filhos.

Algo assim está sendo pensado pelo Governo do Estado de São Paulo, a funcionar no Portal Cidadão.SP, com um mecanismo de avaliação da informação e da prestação dos serviços sendo utilizados pelo cidadão paulista, porém sem data marcada para implantação.

No ano passado, noticiamos aqui a proposta do CORDIS para que 2009 fosse o Ano Europeu da Criatividade e Inovação, dando início a estratégia de tornar a Europa um continente líder na economia do conhecimento. Era abril e a crise econômica mundial não estava acentuada ou quase nada sabíamos, além de algumas dificuldades no mercado hipotecário americano.

Com o estouro da crise, afetando incisivamente a Europa, cheguei a pensar que esse grande evento da inovação pudesse ser cancelado ou submeter-se a um patamar de menor vulto; subestimei o espírito inovador do velho mundo. 

O Ano Europeu da Criatividade e Inovação foi lançado oficialmente em 7 de janeiro, em Praga, com a primeira reunião de trabalho no último dia 16 de fevereiro, em Bruxelas, tendo como mensagem-chave que "Criatividade e inovação contribuem para a prosperidade econômica, bem como para o bem-estar social e individual".

Nesta semana, nos dias 2 e 3 de março, a Comunidade Européia volta a se reunir em Bruxelas para a exibição das Melhores Práticas do Programa Europeu, cujo documento está disponível aqui e reúne a descrição e ficha técnica dos projetos de maior destaque, tendo em comum a possibilidade de serem facilmente "copiáveis" por outros governos. 

Na introdução ao documento, o Comissário Europeu para Educação, Capacitação, Cultura e Juventude, Ján Figel´, faz uma pontual abertura, que a seguir reproduzo:

"A crise financeira e econômica que veio à luz tarde em 2008 é o tipo de desenvolvimento extremo, que requer uma indispensável qualidade em busca de soluções: criatividade. Precisamos de criatividade para encontrar a melhores respostas. 
Mas criatividade não é apenas útil em situações de crise, é claro. Criatividade e capacidade inovadora trazem cruciais benefícios a longo prazo para a economia, a sociedade, as empresas, bem como para as pessoas. Inovação e criatividade são pilares fundamentais para o desenvolvimento econômico e o crescimento social."


Recomendo também a visita ao site português do Ano de Criatividade e Inovação em que, entre outros, traz o interessante artigo Uma Nova Rede para Portugal, de Francisco Jaime Quesado, Gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento, no qual propõe um Portugal 2.0 e assim conclui: "O desafio 2.0 tem que ser desenvolvido. Fazer de Portugal  a Oportunidade Possível dum país onde o Conhecimento e a Criatividade sejam capazes de fazer o compromisso nem sempre fácil entre a memória dum passado que não se quer esquecer e um regresso a um futuro que não se quer perder". 

Para quem, como eu, viveu os anos de crise e alta inflação no Brasil, sabe muito bem que a criatividade de nossos executivos e dirigentes sempre foram admiradas no exterior. Uns enxergam só a crise, outros conseguem ir além e perceber a oportunidade.