A transposição de uma economia industrial para uma economia do conhecimento não se dá espontaneamente. Requer dos países que queiram ingressar nesse novo cenário muita visão estratégica e, a partir daí, ações concretas condizentes com as metas que vierem a ser traçadas.
As estratégias que permitam às nações ingressar nessa nova economia pela porta da frente, variam de país para país, de acordo com as realidades e potencialidades de cada um deles. Em todas as nações que já perceberam mudanças no ar, não é o nosso caso infelizmente, existe, no entanto, uma preocupação comum: estimular a inovação.
Países que queiram ter papel preponderante na nova economia sabem que, doravante, não basta mudar episodicamente, ao contrário, processos e produtos com ciclos de vida cada vez mais curtos apontam que é preciso mudar sempre.
Neste sentido, os dados obtidos no estudo recém divulgado, preparado pela Fundação Getúlio Vargas, sob encomenda da Ernst & Young, "Brasil Sustentável, Horizontes da Competitividade Industrial", me deixaram bastante preocupados.
Vou apontar aqui apenas alguns dos motivos que me levaram isto, convidando os qualificados leitores deste espaço a lerem a íntegra do trabalho.
1. Entre 1960 e 2005, o progresso tecnológico na indústria manufatureira brasileira cresceu 0,28% ao ano, contra 2,19% no Japão, 1,84% em Cingapura e 1,64% na Alemanha, os 3 países mais bem colocados. Na tabela apresentada no estudo, com vinte países, só ficamos à frente de Israel e Finlândia.
2. No comércio mundial de bens manufaturados, embora tenhamos crescido acima da média global entre 1990 e 2007, não aparecemos nem na lista dos os vinte maiores exportadores, nem na relação dos vinte maiores importadores. Nossa participação no mercado mundial de bens manufaturados é pífia. Ficamos atrás de Irlanda, Tailândia e Malásia por exemplo.
3. Em 2006, as exportações totais do Brasil atingiram 137,50 bilhões de dólares, das quais apenas 9,40 bilhões de dólares (6,8%) de produtos de alta tecnologia.
4. Ainda falando sobre exportação de produtos de alta tecnologia, o estudo da FGV menciona que mais do que em qualquer outro segmento, o sucesso, aqui, está fortemente atrelado à inovação que, por sua vez, está vinculada a investimentos expressivos e continuados em pesquisa e desenvolvimento. Mais uma vez os valores apresentados no trabalho não são animadores. Enquanto Estados Unidos, União Européia e Japão investiram em P&D, montantes respectivos de 292, 217 e 133 bilhões de dólares, os investimentos em P&D no Brasil ficaram próximos a 5 bilhões de dólares. A cifra brasileira corresponde, por exemplo, a um terço do investido pela Coréia do Sul, que na minha época de faculdade (anos 70) era um país pobretão e agora nada de braçada. É o nono maior exportador de produtos manufaturados do mundo.
5. Por fim, mas não menos desanimador, as projeções efetuadas pelo estudo mostram que, se nada for feito, haverá uma perda de participação do Brasil nas exportações mundiais entre 2007 e 2030. As estimativas para o crescimento das importações mundiais de manufaturas, nesse período, oscilam em torno de 3,7% ao ano e as exportações brasileiras, em algo como 1,8% ao ano. Os motivos para esta retração são: crescimento no custo da energia; gargalos na infra-estrutura; inadequação da estrutura tributária e investimentos insuficientes em pesquisa e desenvolvimento.
Se quizermos falar grosso nesse novo mundo, já sabemos onde atacar. Se, ao contrário, almejamos continuar vendendo mercadorias e importando conhecimento é só ficar vendo a banda passar.
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