Tenho uma impressão sobre a habilidade dos políticos brasileiros, quando entendem os meios de comunicação, mais ou menos assim: Getúlio Vargas entendeu e usou como ninguém o rádio, enquanto que o Juscelino Kubitschek foi o pioneiro e elegante presidente na TV (a analógica, é claro), talvez superado por Fernando Collor em termos dramáticos, mas quem, no Brasil, será o hábil candidato a ocupar a mídia internet nas próximas eleições ?

Acompanho um pouco as eleições americanas e o competente trabalho da equipe de Barack Obama. Eles ocuparam todos os espaços e oportunidades da internet em torno das primárias democratas.

Desde site de adesão à campanha, além do oficial do senado, um wiki bem redigido, flickr enorme, wallpapers e ringtones para celulares, um canal no Youtube, RSS e releases e outros tantos endereços e recursos da web 2.0 a favor de sua campanha. Talvez a melhor campanha via internet até agora e, com certeza, a maior.

Visitar todas essas referências e estudar a estratégia da equipe de Obama para internet é, por si só, um grande prazer que pretendo desfrutar neste final de semana. Que aliás, começa hoje.

Porque nesta sexta-feira haverá um evento na Universidade de Nova York, reunindo Arianna Huffington, fundadora do portal de blogs políticos The Huffington Post; Jeff Jarvis, do Buzz Machine; Micah Sifry, fundador do TechPresident, blog sobre o uso da web na política; Lisa Tozzi, editora de política do NYTimes; e Jay Rosen, professor de jornalismo da UNY, que irá debater "como a internet está mudando a política nos EUA".

O debate terá transmissão ao vivo pela web no GroundReport.tv. É hoje, sexta-feira, às 20h, horário de Brasília.

Pst Post>> para quem perdeu o debate, mas gostaria de ver, clique aqui para acessar.
Imagine um grupo de 49 especialistas em inovação e educação reunido, pensadores da estatura de Phillip Long, do Educational Innovation and Technology Office do MIT, ou do nosso Jean Paul Jacob, inovador emérito da IBM e professor da UC Berkeley. Gente assim respondendo a pergunta-título deste post.

Esses notórios da inovação fazem parte no New Media Consortium, uma comunidade que reúne centenas de líderes dos centros de pesquisa das universidades, empresas e governos, para estimular a prospecção e uso de novas mídias e tecnologias de aprendizagem e criatividade.
Recentemente o NMC publicou o 2008 Horizon Report como resultado da prospecção em novas tecnologias para educação, num processo assim explicado por Jean Paul Jacob à revista OffLine:

“Começamos com a pergunta: ‘quais as tecnologias que vão impactar a educação dentro de um ano, dentro de dois a três anos e dentro de quatro a cinco anos?’. Todos os estudiosos responderam. Isto gerou aproximadamente 100 apostas. Houve espaço para discussão. Os autores debateram. Agruparam idéias parecidas. Consolidou-se uma lista com 60 itens. Cada um teve dez votos para distribuir. Podia escolher vários itens ou apostar todas as suas fichas em um único, se o considerasse o mais importante. Após a votação, oito tecnologias vencedoras. Reunimo-nos em grupos com a incumbência de eliminar a menos importante. Ficaram as cinco tecnologias mais relevantes.”

Aconselho o download e leitura do relatório, mas aqui vão topicamente as cinco tecnologias apontadas: popularização da linguagem de vídeo, web colaborativa, banda larga móvel, data mashups, inteligência coletiva e sistemas operacionais sociais.


>>Post Post: o Pepe, recém-retornado da Europa, nos informa o espetacular wiki do Horizon Project http://horizon.nmc.org/wiki/Main_Page . Bem-vindo e tks JAC.
Temos acompanhado aqui com atenção as iniciativas de mobilidade em governo, o m-Gov, na certeza de que a estratégias de prestação de serviços públicos em plataforma móvel devem estar na pauta de qualquer governo. Esse alinhamento emergente das tecnologias pessoais e convergente para a telefonia móvel, beneficia tanto cidadãos quanto a própria gestão.

O caso da SABESP noticiado pela InfoCorporate, é exemplo de interpretação das facilidades tecnológicas aplicadas ao ambiente "hostil" que é o da manutenção da rede de água e esgoto de São Paulo. Segundo a reportagem, as 800 equipes colocadas à rua diariamente para resolver problemas de vazamentos, ligações de água e de esgoto e trocas de hidrômetros "deixaram de sair às ruas com um calhamaço enorme de papéis – requisições, mapas, listagens e documentos. No lugar, carregam um smartphone.", neste caso equipado com wi-fi, camera, GPS e acesso aos mapas da rede de saneamento local.

Com a disponibilidade da tecnologia 3G no país, abrem-se novas oportunidades para a criação e oferta de serviços públicos antes jamais imaginados, uma vez que permite a banda larga móvel e a possibilidade de videochamadas através de aparelhos celulares, entre os serviços mais destacados.

Um modelo interessante de banda larga móvel na área pública está na revista Info deste mês, edição impressa, onde sugere a adoção de celulares 3G como hotspots a serviço da população, afirmando que "em cidades onde a banda larga terrestre não está disponível, celulares 3G vão fazer o papel de roteador e oferecer a internet sem fio em locais como postos de estradas, pousadas e cidades muito pequenas". Talvez o caminho mais rápido para as cidades digitais, penso.

Uma outra aplicação que despertou interesse vem da Universidade de Washington, especificamente do Department of Computer Science and Engineering, que mantém o projeto MobileASL e vem estudando formatos de vídeocompressão para mobiles, tendo por objetivo facilitar o uso de celulares pelo usuário surdo-mudo. Imagino o benefício na prestação de serviço público com esse recurso que, segundo o site do projeto, já foi implantado no Japão e na Suécia.

Sim, mas aí vem aquela conversa toda do preço das tarifas no Brasil, da lentidão das organizações públicas, acadêmicas ou privadas em desenvolver soluções e tudo mais. Reconheço isso, mas animou-me também a reportagem do Caderno Digital, tendo como fonte o Ibope/NetRatings, apontando que 7% da base de usuários brasileiros acessaram a Internet por meio de celulares em 2007 - o que representa 2,8 milhões de internautas. O mesmo caderno ainda destaca que o Brasil está entre os campeões de acesso e que até 2010, 15 milhões de conexões serão feitas via banda larga, sendo 3 milhões por meio de celular.

Se esses números não confirmam a tendência e a necessidade de (des)envolvimento do governo nesse segmento, vamos continuar assistindo o que os demais países protagonizam.
Encerra neste domingo, dia 9, a inscrição de trabalhos e painéis no I Congresso CONSAD, que será realizado em Brasília-DF entre os dias 26 e 28 de maio. CONSAD é a sigla para o Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração e, como percebido, realizará pela primeira vez um congresso desse porte.

Até o dia 11/3, terça-feira, estão abertas as inscrições para o 11° Prêmio CONIP de Excelência em Inovação na Gestão Pública que, em minha opinião, é o maior e tradicionalmente o mais badalado evento nacional em inovação de governo. O CONIP está programando para esta edição 2008, entre os dias 2 e 5 de junho, "em um único lugar, em uma única semana, os melhores eventos de e-gov do País.", como apresenta o portal do Instituto.

A propósito, pretendo participar dos dois eventos e dar cobertura das principais palestras através deste blog.

Puxando a tomada do e-Gov

3 comentários
O artigo Government offline, publicado no The Economist do último dia 14, avalia o uso das novas tecnologias pela administração pública apontando, entre outras coisas, porque os projetos de desenvolvimento funcionam melhor na empresa privada em relação a incorporação das TIC nas instituições públicas.
Entre as razões, três se apresentam como principais: a falta de pressão competitiva, a tendência a reinventar a roda e o foco na tecnologia no lugar do enfoque na gestão ou organização.
Esses três pontos não trazem novidade, mas a constatação daquilo que temos assistido em vários governos, no Brasil ou no exterior. Trata-se da tríade paralisante ou anestésica que sobrepõe-se não só aos avanços tecnológicos, mas também aos raros sinais de vontade política que vemos de vez em quando.
Leia aqui o artigo.