A última eleição 1.0

Nesta semana começou o horário obrigatório de propaganda eleitoral, que acabará só no dia 2 de outubro. Apresentam-se na mídia cerca de 380 mil candidatos a prefeito em todo Brasil (para 5.563 vagas) e um não-sei-quantos postulantes às 52.137 vagas de vereador pelo país. Conta de mais, totaliza 57.700 brasileiros que assumirão o poder público em seus municípios no próximo janeiro, via o voto direto.

Dizem que a campanha só começa mesmo quando tem início o uso da mídia eletrônica, em nosso caso o rádio e a tv (?!). Essa lógica da comunicação em mão única - candidato fala e eu escuto - está com dias contados, na nova e-democracia deve surgir o e-candidato que conduzirá a uma nova comunicação e gestão, tanto da campanha, quanto do mandato.

Daí lembrei de um artigo do Fernando Puente, publicado no El País sob o título "Los diez mandamientos para ser un buen e-alcalde", que coloca num decálogo muito simples as recomendações para os e-prefeitos. Aplica-se também no caso brasileiro, a começar pelo primeiro mandamento que é "Faça a vida mais fácil para as pessoas", aqui fundamenta-se a diretriz primeira para qualquer serviço público, principalmente o em meio eletrônico.
Penso que esta será a última eleição 1.0, em termos de planejamento, comunicação e formas de compromisso do candidato, incluindo quando eleito. A campanha eleitoral deste ano é, em formato e conteúdo, ultrapassada, unilateral, não-interativa e igualzinha as tantas outras que assistimos nos últimos doze anos.

Quando comentamos a brilhante campanha do Obama nas prévias democratas, criando vantagem competitiva em relação a Hillary, creditamos essa vantagem ao bom uso das ferramentas web 2.0, e estamos certo nisso. O que precisou ficar claro é que o uso dessas ferramentas significa alta interatividade e não simplesmente a diversidade midiática.

As eleições presidenciais de 2010 serão eleições 2.0, acredito. Haverá programas de candidatos sendo montados em co-produção com a população através de comunidades web e blogs, como o dos Metronauts no Canadá; o candidato responderá - ele mesmo - questões deixadas no Youtube pelo eleitorado, à moda britânica do Ask The PM; os nossos celulares receberão SMS e MMS não de propaganda política, mas de respostas às perguntas que enviamos aos partidos por esse meio, que também deve ser usado pelo TSE e seus regionais. Ah! sim, também me parece que a TV Digital estará mais amadurecida e talvez interativa.

E nesta eleição de 2008 o que pode ser feito ?
Bem, o que eu vou fazer neste final de semana é estudar um exemplo de participação política 2.0 que conheci recentemente: o site italiano OpenPolis.
Nesse site independente, os usuários "adotam" um candidato eleito em qualquer nível de governo e, além de prepararem a biografia política, monitoram e acompanham os passos desse representante, sua postura em decisões, quais projetos propôs e nos quais votou sim ou não, escândalos em que se envolveu, enfim, sem necessidade de "relação oficial dos fichas sujas". É o eleitor quem cria e controla o conteúdo, assim é a democracia doispontozero.

POST POST: Para ter uma idéia de outro bom projeto w2, com inovadora linguagem visual e de conteúdo sobre o tema eleições, acesse o projeto Rock the Vote, pelo qual um instituto de pesquisa dos EUA, em parceria com a Microsoft, estão usando a rede do videogame Xbox Live para medir a intenção de voto do jovem americano nas eleições deste ano. A Rock the Vote já usa o site e uma versão para mobile, Youtube, Flickr e Facebook, além de oferecer o mesmo conteúdo em espanhol. A notícia saiu no site da BBC e no Plantão Info.


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