No Brasil, a preocupação com a inserção das cidades na era do conhecimento ainda é muito tímida. Um dos indicadores dessa baixa prioridade é fornecido pela presença, praticamente nula, do tema na agenda dos candidatos à prefeito e vereador, aqui em São Paulo e, desconfio, no País como um todo.

Por ser muito recente, as questões vinculadas ao conhecimento ficam fora do debate, ainda dominado pela discussão dos problemas da educação, saúde, transportes e segurança pública, setores com carências históricas e, por isso mesmo, com maior apelo eleitoral.

O que nos preocupa, no entanto, é o fato de que pensar essas questões com a cabeça submetida aos padrões da longa e agonizante sociedade industrial impede uma análise mais profunda e criativa dos complexos problemas que dominam, hoje, a vida das cidades. Na verdade, a capacidade de acrescentarmos conhecimento ao processo de formulação e implementação das políticas públicas vinculadas aos estratégicos setores de atividade citados acima é que irá ditar a efetividade das mesmas.

Um exemplo. O debate atual ainda privilegia o abrir escolas, o que é bom, mas fala pouco, ou nada, sobre a adaptação dos currículos para os complexos problemas do mundo contemporâneo. Fala pouco, ou nada, da cidade como espaço permanente de aprendizagem.

Outro exemplo. Ampliar o transporte de massa é certamente imprescindível, mas o que temos feito para tornar as viagens mais “inteligentes”, por meio do alongamento da curva de utilização da infra-estrutura de transportes, ou pela diminuição do número de viagens que acabam por se revelar inúteis devido a falta de informação do usuário sobre as questões que conduziram ao deslocamento?

Se nos debruçarmos sobre estas e outras questões similares, vamos descobrir que não existe incompatibilidade entre o “aqui e agora” e o conhecimento. Vamos perceber, mais ainda, que desconsiderar o peso do conhecimento nas modernas políticas públicas atenua, em muito, o grau de efetividade das soluções adotadas.

Observando como esta questão está sendo tratada na agenda eleitoral das democracias mais avançadas do planeta, estou convencido de que as eleições de 2010, já incorporará uma porção mais generosa de conhecimento em seu cardápio. As de 2012 mais ainda.

O chato é que essas porções já poderiam estar sendo ser servidas desde já. Mas, fazer o que? Vou controlar meu apetite e torcer para que esta fina
iguaria caia, rápido, no gosto popular. Quem experimentar, eu garanto, vai gostar.

A Roda está Viva

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Em junho passado anunciávamos aqui algumas iniciativas da TV Cultura, especialmente no Roda Viva, com a digitalização das memoráveis entrevistas realizadas nesse programa nos últimos vinte e dois anos, comemorando com sua disponiblização pela web.

Nesta segunda-feira, 22, o Roda Viva levou ao ar a primeira Transmissão Experimental Participativa, que julgo ser pioneira no país a usar ferramentas web 2.0 e tv ao vivo integradas e com interação. Em uma mesma página o usuário podia assistir ao programa, assistir aos bastidores durante o intervalo, ver fotos e, principalmente, interagir com o moderador e com outros usuários no programa ao vivo.
Vale a pena ler os comentários que surgiram durante as transmissões, o programa cresceu em tempo virtual (algo como realidade aumentada) e conteúdo com essa participação, o telespectador agora é interator, a sensação que dá é de que o sofá ficou maior.

Para fazer isso, o pessoal de novas tecnologias da TV Cultura usou da web três ferramentas gratuitas: o Coveritlive, liveblogging usado para a cobertura em tempo real; o Mogulus para a transmissão de imagens ao vivo (no caso usado para a camera "fora do ar"); e o Twitter, para os comentários dos teleinteratores. Como arremate, o programa também utilizou o Flickr para as fotos.

Para quem está achando que isso é muito "tosco", cheio de "gambiarras" e integrações de pé quebrado, peço que repense. O que a TV Cultura está fazendo - e o que nenhuma outra emissora comercial fez - é experimentar a convergência hipermidiática, é prospectar a linguagem interativa que a TV Digital irá nos oferecer, sem medos de perder audiência, mas com o compromisso de elevar o conhecimento de seu público. Só a TV pública consegue fazer isso ?

Espero que na próxima segunda-feira repitam a dose.

Ah! sim, o título deste post eu retirei de um dos comentários feito por alguém, naquele sofazão digital, durante o programa.
A consultoria americana Awareness, sediada em Massachusetts, especializada em ferramentas web 2.0 - blogs, wikis, rss, tags, comunidades, podcasts, videocasts, mapping, mashups... e por aí em frente - publicou um estudo sobre tendências e boas práticas, sob o título "Trends and Best Practices in Adopting Web 2.0 in 2008".

É de fato um white paper, com a objetividade que o nosso tempo exige, sem contudo cometer leviandades de observação. Trata-se da segunda edição de uma pesquisa que tenta apurar o uso estratégico e operacional dessas ferramentas w2, com avaliação dos bons e maus resultados, algo que também chega a sugerir melhores decisões na escolha. Como por exemplo, a utilização de wikis que, segundo o relatório, tem maior sucesso quando utilizados em ambiente interno, na produção de conhecimento corporativo.

Faço destaque a três aspectos interessantes do estudo:
- na divisão entre mídias externas (external-facing) e internas (internal-facing), 70% das empresas pretendem empregar ou manter blogs para comunicação externa e 55% querem implantar redes sociais no ambiente interno;
- o crescimento do percentual de empresas que, neste ano, passaram a permitir que seus empregados usem as mídias sociais durante o expediente, de 37% em 2007 para 69% em 2008; e
- o uso de vídeo (Youtube, Vimeo e assemelhados) tem sido encarado, por 48% dos entrevistados, como a aplicação número um em boas práticas empresariais.

Esses números vão crescer, é claro, talvez a ponto de contagiar a administração pública. Continuo, até que me provem o contrário, pensando em governo 2.0 como parte da solução.

A Política 2.0

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No próximo sábado, dia 13/09,  o Parlamento do País Basco será invadido pela blogosfera daquela região do extremo norte da Espanha, para realizar o primeiro encontro de blogueiros, políticos e políticos-blogueiros, a fim de explorar as possibilidades de incorporação das ferramentas web 2.0 no âmbito da política. 

Apesar de não possuir nenhuma entidade organizadora do evento, todos estarão lá a convite da presidenta da casa, Izaskun Bilbao, foto, a primeira mulher a presidir o Parlamento Basco desde sua criação.

O encontro, chamado Politika 2.0, naturalmente já possui blog, wikitwitter e facebook, por onde vai dar para acompanhar a discussão e a criação de conteúdos, que já começou. Leia, por exemplo, o modesto decálogo (na verdade tem 13 mandamentos) do Poli-blogger, que é como estão chamando o político-blogueiro. 

Foi um achado chegar ao décimo-segundo mandamento, que diz "Busca sempre a Sinergia Macramental estável, duradoura e em contínua expansão.". Por ignorância e dever de ofício, fui atrás da definição de Sinergia Macramental e descobri que o termo, nascido na eFindex do ano passado, parece acertar ao descrever a potencialidade dos blogs na dinâmica de comunicação nos tempos atuais. Um neologismo que cabe. 

Como anteriormente previ o fim da política 1.0, quem quiser saber mais sobre Politika2.0 e se preparar, comece pelas definições e siga em frente. Quem preferir, e vale a pena, pode também conhecer o Plano Basco da Sociedade de Informação - Agenda Digital 2010.
Em julho passado, anunciamos neste blog a criação espanhola da Escola 2.0, numa inovadora ação de governo desenvolvida pelo Ministério de Educação, Política Social e Desportes. Passado esses três meses, o mesmo ministério anuncia mais uma criação: um canal no YouTube.

Apontamos aqui e ali as iniciativas de governos que, ao aderirem a canais de vídeo na internet, melhoram sobremaneira sua comunicação com o cidadão, potencializando o relacionamento com o público e beneficiando-se do meio para explicar o próprio governo em nova linguagem, diferente do formalismo retórico dos "diários oficiais" mas, sob o ponto de vista da informação, apresentam a palavra (e imagem) oficial.

O novo canal do ministério de Espanha, o MEPSYD, iniciou com uma pequena programação e pretende usar o mesmo canal para receber dúvidas e críticas do cidadão, visando o aprimoramento do canal e da gestão. A titular da pasta, a ministra Mercedes Cabrera, no vídeo de apresentação do canal, diz que "... a administração pública tem a obrigação de unir-se a esta nova forma de entendimento com a sociedade...".

Por curiosidade, fui procurar na caixa de busca do YouTube algum vídeo com a tag governo brasileiro e achei isto... pena. Tenho razões para acreditar que, ao criar canais no YouTube (ou qualquer outro do tipo), os governos poderiam também começar a praticar a linguagem da TV Digital e começar a produzir serviços públicos em vídeos interativos, que tal ?

Para quem ainda não conhece a técnica embrionária da interação no YT, interaja aqui para alguns exemplos e aqui para entender como é feito.