No final de 2006 tive a oportunidade de assistir, em Portugal, ao nascimento da AMA - Agência para a Modernização Administrativa que na época, confesso, me parecia mais um daqueles escritórios criados para apaziguar ânimos e conflitos de competência, visto que entre suas atribuições, a tal agência iria concentrar dois órgãos públicos de ponta no território lusitano: a UMIC e as Lojas do Cidadão. Eu estava errado, ainda bem.

A AMA, além de imprimir novo ritmo aos projetos de sucesso, como a implementação das Lojas do Cidadão 2.0, organizou e vem implementando o Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado – PRACE - e o SIMPLEX. Bons projetos, tanto para empresas quanto para cidadãos estão em desenvolvimento nesse curto tempo de operação da AMA, presidida por Anabela Pedroso.

Agora encontro mais um exemplo dessa competência: a Rede Comum de Conhecimento (RCC), criada para divulgar e compartilhar online casos de boas práticas na administração pública, do ponto de vista da modernização, da inovação e da colaboração. Algo que modestamente tentamos fazer na iGovSP, só que a rede lusa tem mais "musculatura", como diz o Pepe.

De acordo com o próprio portal RCC, a "Rede Comum de Conhecimento é uma plataforma colaborativa de apoio à partilha de iniciativas de modernização, inovação e simplificação administrativas da Administração Pública; disponibiliza informação relevante em áreas como interoperabilidade, governo inclusivo, distribuição de serviços públicos... e dará suporte às redes formais de colaboração e de conhecimento".

Um aspecto que chama a atenção é que a RCC tem por princípio a adesão livre por parte dos organismos públicos, centrais e locais, das entidades privadas e dos cidadãos que nela queiram participar. Quer dizer, cidadão também inova o governo.

Sem pessimismos, vou acompanhar o desenvolvimento da mais recente rede do conhecimento em língua portuguesa e espero postar suas novidades. De início, recomendo a consulta à Mediateca disponível no portal, um tesouro digital aos inovadores em governo.

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A última eleição 1.0

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Nesta semana começou o horário obrigatório de propaganda eleitoral, que acabará só no dia 2 de outubro. Apresentam-se na mídia cerca de 380 mil candidatos a prefeito em todo Brasil (para 5.563 vagas) e um não-sei-quantos postulantes às 52.137 vagas de vereador pelo país. Conta de mais, totaliza 57.700 brasileiros que assumirão o poder público em seus municípios no próximo janeiro, via o voto direto.

Dizem que a campanha só começa mesmo quando tem início o uso da mídia eletrônica, em nosso caso o rádio e a tv (?!). Essa lógica da comunicação em mão única - candidato fala e eu escuto - está com dias contados, na nova e-democracia deve surgir o e-candidato que conduzirá a uma nova comunicação e gestão, tanto da campanha, quanto do mandato.

Daí lembrei de um artigo do Fernando Puente, publicado no El País sob o título "Los diez mandamientos para ser un buen e-alcalde", que coloca num decálogo muito simples as recomendações para os e-prefeitos. Aplica-se também no caso brasileiro, a começar pelo primeiro mandamento que é "Faça a vida mais fácil para as pessoas", aqui fundamenta-se a diretriz primeira para qualquer serviço público, principalmente o em meio eletrônico.
Penso que esta será a última eleição 1.0, em termos de planejamento, comunicação e formas de compromisso do candidato, incluindo quando eleito. A campanha eleitoral deste ano é, em formato e conteúdo, ultrapassada, unilateral, não-interativa e igualzinha as tantas outras que assistimos nos últimos doze anos.

Quando comentamos a brilhante campanha do Obama nas prévias democratas, criando vantagem competitiva em relação a Hillary, creditamos essa vantagem ao bom uso das ferramentas web 2.0, e estamos certo nisso. O que precisou ficar claro é que o uso dessas ferramentas significa alta interatividade e não simplesmente a diversidade midiática.

As eleições presidenciais de 2010 serão eleições 2.0, acredito. Haverá programas de candidatos sendo montados em co-produção com a população através de comunidades web e blogs, como o dos Metronauts no Canadá; o candidato responderá - ele mesmo - questões deixadas no Youtube pelo eleitorado, à moda britânica do Ask The PM; os nossos celulares receberão SMS e MMS não de propaganda política, mas de respostas às perguntas que enviamos aos partidos por esse meio, que também deve ser usado pelo TSE e seus regionais. Ah! sim, também me parece que a TV Digital estará mais amadurecida e talvez interativa.

E nesta eleição de 2008 o que pode ser feito ?
Bem, o que eu vou fazer neste final de semana é estudar um exemplo de participação política 2.0 que conheci recentemente: o site italiano OpenPolis.
Nesse site independente, os usuários "adotam" um candidato eleito em qualquer nível de governo e, além de prepararem a biografia política, monitoram e acompanham os passos desse representante, sua postura em decisões, quais projetos propôs e nos quais votou sim ou não, escândalos em que se envolveu, enfim, sem necessidade de "relação oficial dos fichas sujas". É o eleitor quem cria e controla o conteúdo, assim é a democracia doispontozero.

POST POST: Para ter uma idéia de outro bom projeto w2, com inovadora linguagem visual e de conteúdo sobre o tema eleições, acesse o projeto Rock the Vote, pelo qual um instituto de pesquisa dos EUA, em parceria com a Microsoft, estão usando a rede do videogame Xbox Live para medir a intenção de voto do jovem americano nas eleições deste ano. A Rock the Vote já usa o site e uma versão para mobile, Youtube, Flickr e Facebook, além de oferecer o mesmo conteúdo em espanhol. A notícia saiu no site da BBC e no Plantão Info.


O leitor habitual deste espaço já observou em postagens anteriores, que os governos, em maior ou menor escala, com maior ou menor grau de timidez, começam a adequar o perfil de suas administrações para os novos tempos do conhecimento e da inovação acelerada.

A criação do Ministério da Ciência e da Inovação, na Espanha, e da AMA – Agência para Modernização Administrativa, em Portugal, são dois exemplos concretos desta nova calibragem, ambos já abordados no iGovBR.

Vamos registrar, agora, mais um caso, o da Coréia do Sul. No início do ano, foi criado, lá, o Ministério da Economia do Conhecimento.

Por que será que uma nação, cujo crescimento econômico recente tem sido considerado exemplo de pujança, cria uma estrutura inovadora deste tipo? Por que será que um pequeno país asiático que saiu do sub-desenvolvimento da década 60 para a atual posição de 16° maior PIB - Produto Interno Bruto do mundo, está preocupado com este tema?

As informações disponíveis no site do Ministério da Economia do Conhecimento e as palavras colhidas no discurso de posse do titular da nova pasta , Lee Youn Hoe, dão algumas pistas para que possamos responder a estas duas questões. A criação novo órgão indica a percepção do governo coreano para o esgotamento de um modelo industrial baseado na energia fácil, na despreocupação com o meio ambiente e centrado, quase que exclusivamente no mercado externo.

Para superar este estrangulamento o novo ministério aponta como principais desafios:

- Diminuir regulações que dificultem a abertura de novos negócios e a atração de capitais externos;
- Privilegiar os segmentos de semicondutores, biotecnologia, tecnologia da informação e de novos materiais;
- Estimular atividades econômicas intensivas em conhecimento;
- Racionalizar o uso de recursos energéticos não renováveis;
- Promover internacionalmente o design industrial coreano;
- Fortalecer os negócios internos não vinculados às exportações.

A criação do novo ministério e esta carta de intenções mostram que o governo coreano está atento às mudanças globais e sabe que, hoje, mais do que nunca, uma nação, por mais bem sucedida que seja, não pode ser dirigida apenas olhando para o retrovisor.

Por outro lado, está claro, para nós, que simples mudanças nos organogramas públicos não bastam para colocar uma nação na trilha do desenvolvimento sustentado. Isto seria simplificar muito a questão. Uma penada bastaria, neste caso, para enriquecer todos os países.

No caso coreano, por exemplo, medidas estratégicas de fundo, como a erradicação do analfabetismo, que atingia um 1/3 dos moradores nos anos 60, e a disponibilidade de uma mão de obra de alta qualidade - cerca de 80% da população atual possui grau universitário - criaram condições para que sonhos mais altos possam, agora, sair do papel.

O Brasil, que ainda não fez essa lição de casa, deve apressá-la se quiser ser, de fato, um país rico e socialmente justo. Paralelamente, suas estruturas governamentais devem estar mais antenadas com esses novos tempos e sinalizar para os investidores nacionais e estrangeiros que país queremos construir.

Neste ponto, a recente criação, no Brasil, do Ministério da Pesca e Aqüicultura oferece um triste contraponto ao exemplo coreano.
Os últimos cinco anos tem revelado um Portugal moderno e inovador, com governantes antenados na aplicação de tecnologias para a melhoria da gestão. Comentamos aqui anteriormente algumas práticas de nossos amigos lusos, como a segunda geração da Lojas do Cidadão, o SIMPLEX e o próprio Portal Cidadão, que coloca em ótima posição o governo português em termos de inovação.

A empresa de telecomunicações Ericsson realiza anualmente estudos de benchmarking na China, Estados Unidos, Reino Unido, Índia, Brasil, Japão e Suécia, visando apurar a realidade do mercado de seu segmento e, neste ano de 2008, incluiu Portugal em seu foco, apresentando informações surpreendentes sobre o mercado português na perspectiva do consumidor, em comparação com o mercado global.

Algumas delas: 2/3 dos portugueses tem computador em casa, 22% dos consumidores têm acesso aos quatro serviços/tecnologias (internet, telefone móvel, telefone fixo, televisão), 33% têm telefone móvel, internet e telefone fixo em casa, 51% dos lares tem ligação à internet e, acreditem, Portugal é líder em utilização de banda larga, ultrapassando proporcionalmente todos os países monitorados pela Ericsson, inclusive os EUA.

Mas isso não acontece sem querer ou por conta do próprio mercado. Antecede a todo esse estado de desenvolvimento e inovação, uma política pública sobre uso de TICs, que deu origem ao Plano Tecnológico Portugal a Inovar. Em Portugal, redes de nova geração são prioridade de governo, existe um plano e existem os indicadores e metas de sua realização, agrupados em três eixos: conhecimento, tecnologia e inovação.

Ao visitar o site do plano já se percebe o foco nos resultados: todas as escolas públicas estão ligadas à internet em banda larga desde 2006, todo o país tem cobertura em alta velocidade, 500 mil alunos do ciclo básico vão receber gratuitamente notebooks com acesso à rede, e tantas outras medidas para o cidadão, para a empresa, para a administração pública e para o desenvolvimento científico.
Aproveitando o tema Portugal e também porque hoje é sexta-feira, recomendo pegar na locadora o adorável filme DOT.COM.

O Blog de Fidel

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Nesta semana em que muito se falou sobre a censura que a China impõe nos acessos à internet, fui surpreendido com a existência do site Cuba Debate, que tem como lema "contra el terrorismo midiático" e que hospeda o Reflexiones de Fidel, um blog com 141 posts publicados desde 28 de março de 2007 até ontem e assinados pelo estreante blogueiro cubano Fidel Castro Ruz.

O
Blog do Fidel, como está sendo chamado, traz ainda RSS, vídeos no YouTube e um fórum que se considera o "Medio de información alternativa que promueve el debate y alerta sobre campañas de difamación contra Cuba". Lá sim é possível postar algum tópico, já que nos posts de Castro não tem "comments".

Fidel Castro sempre soube aproveitar os meios de comunicação: discursos intermináveis no rádio e tv, livros, coletivas, entrevistas... onde aparece Fidel, o assédio da imprensa e de admiradores e o respeito de outros líderes, mostraram sempre o estadista carismático, articulado e daquelas pessoas a quem damos ouvidos e olhos atentos. Agora lemos seu diário digital, quase percebemos um Fidel 2.0.

Mais do que surpreso, fiquei satisfeito em ver o velho comandante tão perto das novas mídias, mas ainda estou pensando: onde estão os nossos blogueiros democratas?