defendi várias vezes a criação de mashups associando mapas do Google (ou do Yahoo) com as aplicações e bases de dados de governo, comentando as bem sucedidas práticas de New York, Chicago e até mesmo da Prefeitura de São Paulo, todas seguindo a tendência de web 2.0 em compartilhamento de sistemas e conteúdos.

Agora a Procuradoria da República em Pernambuco, com a especialíssima mão-de-obra do C.E.S.A.R. - Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, lançam o Citix, um projeto que reúne o mapeamento online (by Google/Maplink) com o conteúdo gerado pelos cidadãos.

E é aqui que está a grande inovação, acompanhando a natureza autoral colaborativa da web 2.0 em que o usuário colabora com o conteúdo, o site incorpora denúncias, descobertas e opiniões da população em relação ao espaço público em que convive, sem a intervenção das "informações oficiais" que, sabemos, é por vezes maquiada.

Por meio do site, o cidadão recifense inclui no mapa da cidade as informações sobre segurança e prevenção de crimes, locais de prestação de serviços públicos, de entretenimento e problemas com infra-estrutura, como orelhão quebrado, buracos na rua, lixo acumulado e coisas assim.
Tudo de autoria do cidadão.

Na categoria sites, já tenho um candidato ao mais inovador serviço público em 2008. Conheça o projeto clicando aqui.

Em tempo: já havia fechado este post quando o Angelo Ricchetti me passou a notícia do Ciência Hoje sobre o Wikicrimes, algo semelhante ao projeto de Recife, desta vez feito para Fortaleza. Valeu Ricchetti.
A Empresa Municipal de Transportes de Madri, responsável pelo transporte coletivo da capital espanhola, além de ter um site bem completo em termos de serviços aos usuários de ônibus, lançou um serviço para celular, por SMS.
O sistema funciona da seguinte forma: o usuário envia um SMS para o número 7998 indicando em que ponto de parada está e qual destino pretende, depois do envio o sistema responde, em vinte segundos, qual a distância e quanto demorará para chegar ao ponto o próximo ônibus.

Com um custo ao usuário de quinze centavos de euro, o sistema está em funcionamento há um ano e meio, com grande adesão do cidadão madrilenho.

Revolução invisível

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Ainda outro dia postava aqui sobre o uso de celulares contra o crime, que está sendo implantado pela Libéria, na África. É nesse mesmo continente que iniciativas de uso de celulares vem ganhando dimensões de inclusão digital, social e educacional, em velocidade espantosa e com grande criatividade. Pode-se mesmo dizer que as aplicações que os governos e ONGs estão desenvolvendo para uso no celular estão na pauta do dia como solução quando o problema é informação e comunicação.

É assim que parece pensar também Joel Selanikio, autor do artigo “The invisible computer revolution“, publicado no site da BBC, físico e fundador da DataDyne.org, organização voltada para projetos mobile em países em desenvolvimento. Acho obrigatório conhecer esse projeto em função da simplicidade das soluções, brevemente expostas no artigo da BBC.

Selanikio argumenta que a inclusão digital e educacional na África não tem se realizado por meio de “projetos de laptops de US$ 100″, mas via celular, que, nestas regiões, é utilizado como um computador - para acessar emails, agendar compromissos e fazer pagamentos.

Ainda segundo o artigo, nos países mais ricos o celular também é usado para essas tarefas, mas somente se o computador não estiver acessível. Diferente de países mais pobres, onde, na maioria das vezes, o único ‘computador’ e meio de acessar a internet é o celular.

Entre os projetos da DataDyne, o principal é o EpiSurveyor, que foi adotado pela Organização Mundial da Saúde como software padrão em mobile (pdas e celulares) para coleta de dados e pesquisa, tendo sido inteiramente desenvolvido por programadores da Índia, Quênia e África do Sul. A apresentação do software na OMS você acessa aqui.
Conforme observei em postagens anteriores, cidades do conhecimento demandam ambientes favoráveis à criação e circulação de idéias e, em função disto, à inovação. O problema é que tais ambientes não são fáceis de implementar. O jeito de pensar industrial, que prevalece desde o século XIX, é difícil de ser descartado. Reconstruir uma cidade para que a sua fonte dinâmica de riqueza passe a estar centrada no conhecimento é desafio muito recente e, o que é pior, demanda mudanças sociais, econômicas e culturais muito profundas . Do ponto de vista governamental, as estratégias, planos, projetos e operações urbanas necessários para que os novos tempos sejam percebidos e implementados, implicam em descartar modelos, réguas e práticas muito arraigadas no setor público.

A imensa maioria das cidades, que estão se reequipando para a nova era, tem, ao menos uma ação em comum - a recuperação de extensas áreas degradadas, normalmente bem situadas em relação a disponibilidade de equipamentos urbanos. Um desses casos, o de Dublin, de repercussão internacional, já foi, alías, tratado neste espaço em março de 2007, com o nome de “Cidade do Conhecimento I”.

Tendo estas experiências em mente, foi com muita satisfação que em dezembro do ano passado, andando pelo centro de São Paulo, observei o início das demolições na área batizada de Cracolândia, o símbolo mais triste da degradação do centro de São Paulo. Vide fotos, a seguir.

Como paulistano e gestor público, sabedor de sua importância estratégica, torço para que este projeto não seja mais um daqueles inúmeros que ficam pelo caminho. A área a ser renovada, já decretada de utilidade pública, envolve cerca de 270 mil m2. Segundo a prefeitura, a Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo, a PRODAM – e mais 23 empresas privadas de tecnologia da informação, call centers e publicidade, todas intensivas em conhecimento, deverão se instalar na região.

Vamos acompanhar com atenção este projeto, pois o seu sucesso ou fracasso serão marcantes na qualificação da cidade de São Paulo em seu trajeto pós industrial.
A edição especial de 40 anos da revista Exame, publicada em dezembro de 2007, apresentou uma interessante matéria sobre a importância das cidades na sociedade do conhecimento.

A reportagem baseou-se, primordialmente, em um ranking de cidades formulado pela “Globalização e Cidades Mundiais”, GaWC, na sigla em inglês, grupo de estudos sediado na Universidade de Loughborough, em Liverpool, na Inglaterra.

Alguns aspectos tratados na matéria, mais diretamente vinculados ao escopo deste espaço, merecem nossa atenção e reflexão.

1. Mais importante dos que os países, uma seleta rede de não mais do que 40 cidades, controla e articula toda a produção mundial. Nelas, está o comando do capitalismo pós industrial, que tem na inovação seu principal combustível. Elas formam, nas palavras do cineasta americano, Eric Burns, o “laboratório humano supremo”.

2. O ranking da “GaWC” é liderado por Londres. Depois de ser ultrapassada por Nova York, nos anos 30, do século passado, Londres reassume, agora, o posto símbólico de “capital do mundo”. A abertura econômica, a eficiência do sistema financeiro e a impecável infra-estrutura tecnológica fazem da capital inglesa a cidade mais globalizada do planeta. Ao contrário, o protecionismo e excessos regulatórios, amplificados depois do “11 de setembro”, fizeram que Nova York ficasse para trás em segmentos críticos do sistema financeiro, como os de bancos de investimento, por exemplo.

3. Para que se tenha uma idéia da força da capital londrina, ela dispõe, segundo a consultoria americana Telegeography, a maior infra-estrutura mundial em banda larga, com uma capacidade de tráfego de 2,3 trilhões de bits po segundo. É por essas infovias que circula o conhecimento, a principal riqueza dos tempos atuais. Sem esse recurso, teria sido impossível, para Londres, uma pequena capital situada em uma ilha, tornar-se o maior mercado de câmbio do mundo e executar 70% da venda de títulos da dívida publica global.

4. São Paulo, aparece nessa seleta lista em 14º lugar. Para galgar esta posição, a capital paulista e seu entorno, superaram sua vocação fabril anterior, ingressando no ultra competitivo mundo das metrópoles pós-industriais. Esta região, que responde por cerca de 15 do PIB nacional, tornou-se o centro de decisões corporativas e principal motor econômico-financeiro da América Latina como um todo, batendo Rio de Janeiro, México e Buenos Aires.

5. A posição de São Paulo não é, no entanto, tranqüila. Problemas sérios de poluição, deficiências no sistema de transportes e a violência achatam a qualidade de vida da métropole. Sem atacar de frente esses gargalos, a capital paulista não pode alçar vôos mais altos. A força das grandes cidades, segundo Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, está na capacidade das mesmas em incubar mudanças e liderar inovações. Para isso elas precisam atrair e reter talentos, recursos muito voláteis, que mais do que o salário em si, buscam, cada vez mais, um espaço adequado de trabalho.

A lista completa das 14 cidades mais globalizadas, abordadas na matéria é a seguinte: 1º Londres, 2º Nova York, 3º Hong Kong, 4º Paris, 5º Tóquio, 6º Cingapura, 7º Toronto, 8º Chicago, 9º Madri, 10º Frankfurt , 11º Milão, 12º Amsterdã, 13º Bruxelas e 14º São Paulo.

Veja a matéria completa no Portal da Revista Exame.

A Geração Móvel

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Muito além da modernidade, é hora de comentarmos os efeitos que a banda larga gratuita, como serviço de governo, associada à mobilidade, são capazes de proporcionar aos habitantes de uma cidade, em termos de educação, cultura, emprego e desenvolvimento regional.
Em Portugal, na região do Minho, o município de Braga já está integrado ao projeto Cidades e Regiões Digitais, equipado com uma vasta rede de fibra ótica e 30 hotspots wi-fi banda larga de acesso gratuito pela população, na denominada Braga Digital.

Pois é em Braga que fica a Escola Secundária Carlos Amarante, uma típica escola pública de segundo grau, onde trabalha a docente Adelina Moura, professora de português e francês. O que faz de especial a Profa. Adelina ? Usa a tecnologia a seu favor, ou melhor, a favor de seus alunos.
No lugar de proibir o uso de celulares e iPods em sala de aula, Adelina compôs um programa de aprendizagem com mobilidade (m-learning), denominado Geração Móvel, no qual disponibiliza na internet e em plataforma móvel as tarefas dos alunos, incluindo produção e publicação de vídeos, desafios para os grupos em rede e o destacado conteúdo em mp3 de suas aulas. Os alunos descarregam esses conteúdos em seus mobiles e os assistem posteriormente como reforço didático.

Parece acanhada a proposta, mas acompanhe os links deste post e considere que todos os recursos utilizados são gratuitos, colaborativos e sem patrocínios. Some-se ainda alguns resultados como diminuição de repetência e do absenteísmo.
Retiro de uma entrevista da Profa. Adelina ao Jornal de Notícias, um resumo interessante: "Em casa, podem ouvir tudo a partir da Net ou do telemóvel ou MP3. E podem ir passear e, pelo caminho, ouvir os textos e as explicações da professora. O objectivo é aprender numa sala sem muros e numa disciplina sem horários".

Há também uma matéria em vídeo publicada nesta segunda-feira pela RTP - Rádio e Televisão Portuguesa.

A cidade-estado de Cingapura tem sido um modelo em inovação e excelência em e-governo. Desde 2004, quando comecei a acompanhar a evolução das ações de e-gov daquele país, me surpreendo com a determinação e velocidade com que implantam novos serviços públicos eletrônicos.

Começou com o e-citizen, portal de serviços ao cidadão, que inspirou tantos outros portais (inclusive o de São Paulo), na sua arquitetura por Life Events, explicado aqui pelo governo canadense, também pioneiro em sua utilização, e aqui na versão australiana que conheci esses dias.

Em seguida Cingapura implantou o myecitizen, uma espécie de CzRM online, que personaliza não somente o acesso mas também os serviços e informações do cidadão e cria um novo modelo de relacionamento com o governo.

Agora Cingapura novamente impressiona colocando 150 serviços públicos no celular, agrupados em 5 perfis e 17 categorias, que vão desde informações fiscais, sobre saúde e previsão do tempo, até notificações via SMS sobre renovação de passaporte ou chegada de novos livros na biblioteca, compra de passagem de ônibus/metrô e acompanhamento de processos da Suprema Corte.

Penso que aqueles que estão trabalhando com m-Gov já tem uma centena e meia de boas práticas.
Há muito tempo que sabemos das dificuldades que são esperadas ao se promover a inovação em qualquer setor, lugar ou época. Surge primeiro a questão de recursos, depois a carência de tempo, adiante a falta de patrocínio político, de participação, de planejamento... enfim tudo isso, quer nesta ordem ou em outra, passam pelo checklist de obstáculos a ultrapassar em projetos inovadores.

Um fator que, apesar de também sabido e esperado, é colocado quase como uma desculpa caso o projeto esteja vertendo água é o cultural. Diz-se que o público-alvo não estava preparado, que estamos além de nosso tempo, que os paradigmas atuais estão cristalizados, que deve demorar anos para que seja absorvido e coisas assim.

Mas então, como é que se faz ? Como inovar sem provocar a mudança cultural ? Fomos preparados para absorver tão rapidamente a tecnologia ou a informação que recebemos nos últimos dez anos (ou nos últimos seis meses) ?

Pergunto isso porque acabei de assistir duas peças publicitárias de governo eletrônico que, ao meu ver, buscam preparar o ambiente de mudança cultural em face das novas tecnologias de relacionamento e transação governo cidadão.

A primeira delas vem da Bélgica, divulgando seu portal e as facilidades que o governo eletrônico proporciona aos moradores daquele país, assista:

A segunda peça vem da Coréia, que usa o carismático personagem animado Pororo, um tipo de Turma da Mônica lá deles, para falar da facilidade e comodidade dos serviços públicos eletrônicos, aí vai:


Já está na hora da gente, aqui no Brasil, fazer algo assim, não é mesmo ? A mudança cultural depende principalmente da comunicação e informação como meio de alavancar reformas e inovar padrões.
A UNPAN - United Nations Online Network in Public Administration and Finance é uma unidade da ONU - Organização das Nações Unidas que publica estudos sobre gestão pública e financeira dos países membros, inclusive sobre governo eletrônico e aspectos correlatos de inovação na administração.
Nesta semana foi lançado o E-government Survey 2008, o relatório que classifica o desenvolvimento de e-gov pelo mundo, de acordo com a análise de seus diversos observadores. Nesta edição, o Brasil ficou em 45o. lugar no E-government Readiness Index, o índice que mede o estado de prontidão em e-gov dos países, caindo 12 posições quando comparado a última edição do índice em 2005, quando apareceu em 33o. . Se serve de consolo, estamos em terceiro lugar na América do Sul, atrás de Argentina e Chile, respectivamente em primeiro e segundo.

Ainda tenho muito a ler no relatório, mas me pegou uma frase do Peter Knight, presente no estudo: "Conversely, the absence of an over-arching e-government and e-development vision has been highlighted by endogenous experts in countries such as Brazil as a major inhibitor of faster economic growth and social progress during the past two decades".

A apresentação do Peter você encontra aqui e o relatório da ONU aqui.

Rio: Internet gratuita e sem fios

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O Estado do Rio de Janeiro, que tem a meta de ser o primeiro Estado Digital do país, inaugurou hoje o primeiro posto de internet sem fios, com conexão wi-fi, aberta e gratuita à população e turistas que transitam por Copacabana.

O anúncio da COPPE/URFJ dá conta que essa iniciativa cobrirá inicialmente toda a Avenida Atlântica, podendo também oferecer acesso à Av. Nossa Senhora de Copacabana, porém o projeto completo, que prevê investimentos superiores a R$ 40 milhões, deve estar concluído e presente em todo o Estado nos próximos 18 meses, ou seja, em meados do próximo ano, em qualquer lugar do Rio, navegaremos de graça e em banda larga.

Se for assim mesmo - e não há razão para duvidar já que o vice-governador carioca é o Pézão, ex-prefeito de Piraí - o Estado do Rio será a referência nacional de modernidade em gestão pública.
A Libéria é um país da África Ocidental, fronteiriço com Serra Leoa, Costa do Marfim e Guiné, com uma população estimada em três milhões de habitantes e com inúmeros problemas de violência, onde em algumas áreas a polícia apenas entra quando tem a proteção das forças da ONU.

O povo liberiano está recebendo do governo, a cada grupo de 40 habitantes da capital Monróvia, um aparelho celular que permite ligar gratuitamente para as forças policiais. O objetivo é tentar aumentar o número de denúncias e assim reduzir os níveis de criminalidade do país.

De acordo com a Associated Press os celulares vão ser distribuídos a indivíduos que são considerados os líderes destes bairros. Estes terão depois a responsabilidade de redistribuir os dispositivos por habitantes que trabalhem à noite ou vivam em pontos estratégicos onde possam ver e relatar os crimes.

As comunidades que reportarem mais crimes vão ter direito a compensações por parte do governo de um país assolado por uma guerra civil que durou entre 1989 e 2003 e vitimou cerca de 250 mil pessoas.