Apesar de não ser simpático às nomenclaturas que dão às gerações, muito utilizadas pelos estatísticos e marketeiros - que criaram rótulos como os baby bommers, que foram sucedidos pela geração X e que agora cedem espaço para a geração Y  - é impossível negar que essas diferenças comportamentais, de consumo, crença e valores, sejam cada vez mais influenciadas pela tecnologia na sociedade. Então, o que acontece na nova geração ? Quais ferramentas usam para se expressar ? A vídeogeração não é mais espectadora, é produtora.

A organização não governamental britânica
DEMOS, que tem por princípio ser um "catalizador de idéias da democracia cotidiana", publica estudos e organiza eventos focados para os movimentos sociais e democráticos, que apresentam os desafios da participação cidadã dos jovens e seus métodos nos dias atuais. Assista o vídeo abaixo criado pela DEMOS.


A DEMOS, como parte desse estudo, também publicou o delicioso relatório de Celia Hannon, Peter Bradwell e Charlie Tims, todos da European Cultural Foundation, chamado Video Republic. Esse estudo, gratuito para download, coloca os fatos e argumentos desta geração conectada, usuária e produtora de vídeos através de webcams, celulares e câmeras de bolso de baixo custo e alto impacto, que não se incomodam com a imagem tremida ou com pouca luz, mas se preocupam em mostrar e denunciar a realidade ao seu redor.

As novas gerações e as novas tecnologias talvez tragam consigo a nova democracia, uma nova república... algo além de novos consumidores. Antes dizíamos que informação é poder; agora, como diz na abertura do vídeo, contar histórias é poder.

E o governo nisso ? Eu havia comentado em outro post sobre a posição da ministra da Educação e Política Social de Espanha sobre a obrigação da administração pública em compreender e usar esses canais, agora o Video Republic inglês afirma que "os governos procuram solucionar os resultados coletivos, influenciando a cultura em que vivemos; também eles vão ter de encontrar novas maneiras de comunicarem-se com pessoas através da Video Republica."

Parece que, ao menos no Reino Unido, essas novas maneiras de videocomunicação já estão adotadas, tanto pelo Primeiro Ministro quanto por Sua Majestade, a Rainha Elizabeth II.


A propósito, em 1958 na Inglaterra, essa mesma rainha transmitiu a primeira mensagem real de Natal pela TV, desejando naquela ocasião que "o novo meio torne a minha mensagem de Natal mais pessoal e direta. O fato de alguns de vocês me verem hoje é um exemplo da velocidade que está mudando o mundo".


Sim, está mudando e muito mais veloz quando os governos são lentos.


Duas áreas importantes e, em geral, com o maior contingente de funcionários na administração pública, são Educação e Saúde. Reportamos anteriormente o modelo espanhol em educação, com a Escola 2.0, e agora acredito que já podemos identificar sinais de um Hospital 2.0, desta vez no Reino Unido.

Percebi esses sinais quando conheci a portuguesa Ana Neves, radicada em Londres e editora do portal KMOL,  por ocasião do evento KM Brasil.  Em sua palestra sobre ferramentas sociais, um dos exemplos que ela destacou, foi colhido da experiência na Inglaterra e refere-se ao Patient Opinion.

Trata-se de um site-comunidade de serviços públicos, que incentiva a colaboração e inovação nos serviços de saúde britânico, a partir da participação e opinião dos pacientes e usuários desse sistema.

As primeiras mensagens na home do Patient Opinion já anunciam o propósito do serviço online: "Sua história pode mudar o Sistema Nacional de Saúde. Diga a todos o que aconteceu. Veja o que outras pessoas estão dizendo. Como essas opiniões estão mudando o sistema de saúde.". Daí é que questões como atendimento, enfermaria, consultas e tantas outras são contadas pelos cidadãos e aproveitadas pelos dirigentes públicos para a melhoria do sistema.

Uma ação sem intermediários, sem ombudsman ou ouvidorias, compartilhada por todos e resolvidas por quem de direito. Algo prático, transparente e democrático. Veja, por exemplo, que desde o uso do mecanismo de busca  até a leitura da opinião de outros usuários da rede hospitalar, o cidadão é incentivado a opinar, a comentar as propostas e a conhecer o ranking de avaliação dos serviços, que inclui o padrão de cuidados médicos, limpeza, estacionamento, tratamento com respeito e dignidade, como mostra a figura a seguir.



Pois é, está comprovado que compartilhar histórias pode melhorar a prestação de serviços públicos e o uso da estratégia web 2.0 facilita a implantação.

A SaferNet Brasil é uma organização não governamental responsável pela Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, que opera em parceria com o MPF-SP e que reúne cientistas da computação, professores, pesquisadores e bacharéis em Direito com a missão de defender e promover os Direitos Humanos na Sociedade da Informação no Brasil.
Nesta última quinta-feira, dia 9, a SaferNet divulgou uma pesquisa inédita sobre segurança na internet e que contou com a participação de quase 1.400 crianças, jovens e pais de todo o País. Dessa pesquisa e do site da ONG, destaco alguns resultados:
  • 53% dos jovens já tiveram contato com conteúdos agressivos e que consideravam impróprios para sua idade;

  • 38% dos jovens internautas relataram já ter sido vítima de ciberbullying;

  • 10% afirmaram já ter sofrido algum tipo de chantagem on-line;

  • 64 % dos jovens usam a Internet principalmente no próprio quarto, contrariando uma das dicas de prevenção que orienta a manter o computador em área comum da residência;

  • 80% dos jovens internautas preferem os sites de relacionamento, 72% comunicadores instantâneos;

  • 54% dos jovens dizem que possuem algum colega que já encontrou com um amigo virtual;

  • 27% dos jovens afirmam já ter encontrado (presencialmente) ao menos uma vez amigos que conheceram pela Internet;

  • 72% dos jovens publicam suas fotos;

  • 51% divulgam o sobrenome além do nome;

  • 61% compartilham a data de aniversário; e

  • 21% afirmam que fornecem livremente o nome da escola e/ou clube que freqüentam.
Dito assim, parecem apenas números estatísticos, mas apontam-nos a realidade e cabe-nos encontrar o equilíbrio entre a segurança e a liberdade nas mídias interativas. Se você quer conhecer e baixar os slides da pesquisa apresentada, acesse aqui.


O caderno Link (do Estadão e Jornal da Tarde) desta semana traz em reportagem de capa o tema Tecnologia também é Política, apresentando as propostas de e-gov dos candidatos a prefeito da cidade de São Paulo. É muito interessante ver os diferentes vieses que cada candidato dá ao assunto, que vão desde visões mínimas de desburocratização pela informatização até a efetividade de novos e integrados serviços públicos online.

Em comum, dois pontos: todos pretendem conectar a cidade em banda larga, em contrapartida, nenhum propõe uma política de tecnologia de informação e inovação em governo. Quer dizer, entenderam que deve ser usado, mas ainda não sabem como nem porque. 

Querem uma dica ? É só acessar o Tech President, um excelente blog que concentra-se em apresentar "Como os candidatos estão usando a web e como são usados por ela", de acordo com o slogan do site.  

Nos EUA, tecnologia e política estão estreitando laços, basta assistir ao vídeo a seguir, extraído da propaganda de TV do candidato Barack Obama, que aponta para a incompetência de seu adversário McCain em entender o mundo contemporâneo, baseado em sua falta de habilidade e convívio com computadores:



Em transcrição do Gizmodo, o comercial diz: “1982. John McCain vai a Washington. As coisas mudaram nos últimos 26 anos. Mas McCain não. Ele admite que ainda não sabe como usar um computador. Não consegue mandar um e-mail. Ainda não entende a economia. E apóia US$ 200 bilhões em cortes de impostos para corporações, mas quase nada para a classe média. Depois de um presidente desatualizado, nós simplesmente não podemos suportar mais do mesmo.”

Pelo vulto que tomaram nestas eleições os temas internet, serviços eletrônicos e estratégia em tecnologia de informação, finalmente o assunto passou ao primeiro grupo de propostas (e promessas) de gestão pública eficiente e de qualidade. Ter um projeto de conexão à rede, de criação de novos serviços públicos digitais e socialização de ferramentas de comunicação, está ficando tão importante (ou vinculado) aos de solução de infraestrutura urbana. 

Em curtas palavras, levar conexão à internet passa a ser tão fundamental quanto levar eletricidade.

Veja o que o Pepe comenta no post abaixo e também o que já falamos sobre o assunto aqui.

Vira e mexe surge a pergunta. Quantos blogs existem no mundo?

Acho impossível responder esta pergunta com um grau mínimo de confiabilidade. Enquanto estou fazendo esta postagem, milhares de blogs estão sendo criados, e outros tantos estão desaparecendo. Por isso mesmo, os números apresentados pelas diversas empresas especialistas em pesquisas na web são tão díspares.

Pessoalmente, creio que mais importante do que entrar nessa neura numérica, é prestar atenção na direção do vento. Senão, ficamos escravos da “estatística pela estatística” e deixamos de observar o mais importante, ou seja, o verdadeiro impacto das ferramentas sociais, das quais o blog é a face mais conhecida, na vida das pessoas e organizações.

Foi com este espírito que comento alguns aspectos da pesquisa “O Estado da Blogosfera”, recentemente disponibilizada na Internet pela Technorati, empresa especializada em indexação, classificação e distribuição de conteúdos gerados em blogs e outras mídias sociais.

Apontarei, nesta postagem, 10 pontos (olha eu caindo na armadilha numérica) que me chamaram muita atenção no documento. Por coerência, não falarei sobre as cifras, em si, as quais podem ser consultadas no estudo mencionado.

1. Os blogs, entendidos como veículos de democratização do processo de autoria e de distribuição de conteúdo, mudaram radicalmente a face da Internet e moldarão o futuro da mídia.

2. Como o talento não cresce na mesma proporção das facilidades tecnológicas, haverá, na blogosfera, muita coisa ruim e sem interesse, algum material de qualidade e uns poucos exemplares de excepcional valor. Essas duas últimas manifestações, por si só, mostram a importância dos blogs para a divulgação de idéias e experiências que, antes, por falta de canal apropriado, tendiam a ficar no plano dos sonhos não realizados.

3. Os blogs estão mudando de cara. Tornaram-se mais bonitos, têm mais funções e estão ficando com jeitão de “site”.

4. Isto tem muito a ver com a maior sofisticação e integração da ferramentas da web 2.0. Pressinto uma grande expansão de soluções que incorporem, em um único ambiente, gratuito e bem resolvido visualmente, o melhor dos blogs, wikis, redes sociais, mashups, etc.

5. O Internet está tomando o lugar da TV como maior consumidora das horas de lazer da população mais jovem. Os blogs e as redes sociais explicam muito desse fenômeno.

6. Estimo que a convergência digital vai se acelerar e os computadores vão, cada vez mais rapidamente, ficar com a cara das TVs e as TVs, com a cara dos computadores.

7. Blogs viraram mania universal. O que era um fenômeno tipicamente norte-americano, com o passar dos anos, foi avançando, também, nos demais continentes, moldando um novo estilo de vida global.

8. Blogs tornaram-se recurso corporativo. O que, de início, era rejeitado ou visto com desconfiança, passou, mais recentemente, a integrar o conjunto de ferramentas colaborativas e de comunicação mercadológica de um número crescente de organizações.

9. No universo corporativo, os governos, em particular, ainda utilizam pouco, e muito timidamente, blogs e outras ferramentas sociais na moldagem de uma nova relação entre o serviço público e a cidadania. Felizmente, este quadro está começando a mudar, graças, principalmente, a utilização inovadora desses instrumentos na campanha presidencial de Barack Obama e por um crescente número de governos europeus.

10. Para reforçar este sentimento, vou reproduzir uma declaração do consultor Michael Powell, da Providence Equity Partners, um dos ouvidos pela Technorati na pesquisa ora comentada. Disse ele, “a blogosfera colocou um pouco mais de tempero na nossa democracia, tornado-a mais apetitosa para um maior número de pessoas”.